Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

terça-feira, 27 de maio de 2008

Tango to Évora




Loreena McKennitt

domingo, 25 de maio de 2008

Amar ou Odiar




Amar ou odiar

Ou tudo ou nada

O meio termo é que não pode ser

A alma tem de estar sobressaltada

Para o nosso barro sentir; viver

Não é uma Cruz que não se queira pesada

Metade de um prazer, não é um prazer!

E quem quiser a vida sossegada

Fuja da vida e deixe-se morrer!

Vive-se tanto mais quanto se sente

Todo o valor está no que sofremos

Amemos muito como odiamos já!

A verdade está sempre nos extremos

Pois é no sentimento que ela está.


Fausto Guedes Teixeira, in “O Meu Livro” dividido em dois tomos (1941)

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quarta-feira, 21 de maio de 2008

De Nampula...








Carlos Queiroz

Parabéns!





"My Way"

And now the end is near
And so I face the final curtain
My friend I'll say it clear
I'll state my case of which I'm certain

I've lived a life that's full
I traveled each and every highway
And more, much more than this
I did it my way

Regrets I've had a few
But then again too few to mention
I did what I had to do
And saw it through without exemption

I planned each charted course
Each careful step along the byway
And more, much more than this
I did it my way

Yes there were times I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all when there was doubt
I ate it up and spit it out, I faced it all
And I stood tall and did it my way

I've loved, I've laughed and cried
I've had my fill, my share of losing
And now as tears subside
I find it all so amusing

To think I did all that
And may I say not in a shy way
Oh no, oh no, not me
I did it my way

For what is a man what has he got
If not himself then he has not
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels
The record shows I took the blows
And did it my way

Yes it was my way



Compositores: Claude Francois, Jacques Revaux, Gilles Thibaut ,

Paul Anka (Eng. Lyr.)


(Post actualizado em 25/05)


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quinta-feira, 15 de maio de 2008

A Baía e a Delagoa




Hoje, é o dia da IO , uma menina leal e solidária!



terça-feira, 13 de maio de 2008

Contra a obscuridade



O olhar desprende-se, cai de maduro.

não sei que fazer de um olhar

que sobeja na árvore,

que fazer desse ardor


que sobra na boca,

no chão aguarda subir à nascente.

não sei que destino é o da luz,

mas seja qual for


é o mesmo do olhar: há nele

uma poeira fraterna

uma dor retardada, alguma sombra

fremente ainda


de calhandra assustada.


Eugénio de Andrade




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Now playing: The Beatles - When I'm Sixty-Four


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domingo, 11 de maio de 2008

Poemas para todas as mulheres



No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha, quero o colo de Nossa Senhora!


Vinicius de Moraes — "Poesia completa e Prosa", Editora Nova Aguillar — Rio de Janeiro



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Now playing: Rui Veloso - Canção De Alterne (com Nancy Vieira)

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sábado, 10 de maio de 2008

20º Aniversário (palabras)



Veinte anos de estar juntos,

esta tarde se han cumplido,

para ti flores, perfumes

para mí...! Algunos libros!


No te he dicho grandes cosas

porque no me habrían salido,

! ya sabes cosas de viejos!

!Requemor de no haber sido!


Hace tiempo que intentamos

a bonar nuestro Destino,

Tú bajabas la persiana.

Yo apuraba mi último vino.


Hoy

En esta noche fría

casi como ignorando el sabor

de soledad compartida,

quise hacerte una canción,

para cantar despacito,

como se duerme a los niños.

Y ya ves solo palabras,

sobre notas me han salido.


Que al igual que tú y que yo,

ni se importan ni se estorban,

se soportan amistosas,

más no son una canción.


...Qué helaba está esta casa.

...Será que está cerca del Rio.

...O es que entramos en invierno.

...Y están llegando...

...Están llegando los fríos.



Paxti Andíon



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Now playing: Patxi Andion - 20º aniversario

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quinta-feira, 8 de maio de 2008

Elogio ao Amor



Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade.
Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.
Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".

O amor passou a ser passível de ser combinado.
Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.
O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.
A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível.

O amor tornou-se uma questão prática.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.

Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona?
Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso.
Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores.
O amor fechou a loja.
Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor.
É essa beleza. É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes.

Tanto pode como não pode.
Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor.
A "vidinha" é uma convivência assassina.
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino.

O amor puro é uma condição.
Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima.
O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar.
A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade.
É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal.
Que se invente e minta e sonhe o que quiser.
O amor é uma coisa, a vida é outra.
A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida.
A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre.
Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos.
E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber,
amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,
viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira.
E valê-la também.


Miguel Esteves Cardoso

Tirado daqui

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domingo, 4 de maio de 2008

ILHA DE MOÇAMBIQUE



Não é a pedra.
O que me fascina
é o que a pedra diz.

A voz cristalizada,
o segredo da rocha rumo ao pó.

E escutar a multidão
de empedernidos seres
que a meu pé se vão afeiçoando.

A pedra grávida
a pedra solteira,
a que canta, na solidão,
o destino de ser ilha.
O poeta quer escrever
a voz na pedra.
Mas a vida de suas mãos migra
e levanta voo na palavra.

Uns dizem: na pedra nasceu uma figueira.

Eu digo: na figueira nasceu uma pedra.

Mia Couto

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sábado, 3 de maio de 2008

MANIFESTO EM DEFESA DA LÍNGUA PORTUGUESA CONTRA O ACORDO ORTOGRÁFICO (PETIÇÃO)

http://www.ipetitions.com/petition/manifestolinguaportuguesa





Povo Que Lavas No Rio
Sofia Barbosa










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sexta-feira, 2 de maio de 2008

VIVER é uma ARTE



Minhas ILUSÕES são traquinas.

Melhor, encabritadas.

Brincam com a REALIDADE.

De tal modo rodopiam em seu redor

Que ela por vezes,

Zanga-se de verdade.

E dá-lhes umas palmadas.

Eu ouço e vejo.

Ou sou juiz, ou não digo nada.

As ILUSÕES, são minhas e constantes,

Tomam sempre o meu partido

Mesmo que não tenha razão.

Repetem vezes sem conta,

Que, quem vive sem ilusão,

É um Ser vazio e condenado.

A REALIDADE não é minha,

Não me pertence,

Sem demoras e com dureza,

Dividida em mil pedaços,

Mostra-me suas verdades

E por vezes dou-lhe razão.

Repete-me vezes sem conta,

Que, quem vive com ilusão,

É um Ser pobre e alucinado.

E neste rodopio constante

Traduzir uma na outra

É um jogo de equilíbrio, é uma arte.


MD




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Now playing: Pedro Abrunhosa - Quem Me Leva Os Meus Fantasmas
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