" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca
incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se
sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca,
ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e
imunizados. A mínima exposição a determinadas
circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis
recorrências e acabamos por arder na altíssima febre
de uma recidiva sem regresso nem apelo".
Rui Knopfli
terça-feira, 6 de abril de 2010
Viagem de finalistas à Beira e Gorongosa (40 anos depois)
Finalistas do Liceu Almirante Gago Coutinho de Nampula 69/70
À porta do Liceu antigo com o ReitorDr. José Miguel Morgado
Finalistas 69/70 do Liceu Almirante Gago Coutinho de Nampula
Devagar, devagarinho, Subo as escadas do palco. Com jeitinho, Afasto docemente as cortinas. Os meus olhos buscam cenas de tempos vividos. Os anos passaram ….. As lembranças são eternas. Os anos passaram…… Saudades! Sim…. Talvez…. e porque não? Se os meus sonhos foram tão altos Que ficaram escritos com letras de ouro! Esquecer? Porquê?..... Se a vida é um grande baile…. Onde as almas se encontram, se esbarram, Se unem, se separam Cada qual bailando nos conflitos, Nas esperanças….. Nas suavidades de todos os anos que se foram! Hoje, além de sorrir, Apetece-me rodopiar convosco Até ao luar de uma outra noite, Que mais uma vez se guardará, Como coisa, que em lembrança se recorrerá Um dia mais tarde……. Quando os anos voltarem a passar. Na partilha e no sonho Não há porta nem freio, Não há início nem fim, Escrito em letras de ouro, só meio. Apetece-me dizer obrigado. Apetece-me agradecer a Todos Amigos e Colegas Por um imperativo simplesmente gostável.
MD
É ver ..... Meninas e Meninos bonitos, Trocar os vestidos e calções de chita, Por vestes encantadas de baile, Enfeitadas com as cores dos sonhos. Os seus olhinhos sorrindo Porque os versos do coração São de poesia inocente.
Foi num grande salão. Para Todos, O mesmo salão, A mesma musica, Cada um dançando Na mesma direcção E Numa direcção diferente.
MD
A 8 de Novembro de 1969 realizou-se, no Clube do Niassa, o Baile de Finalistas 69/70 do Liceu Almirante Gago Coutinho de Nampula.
As aulas começaram como era hábito em Setembro, mas no final do 6º ano já estavam alinhavadas as primeiras ideias,"aulas" começadas, mãos à obra, corrida ao comércio local para os inevitáveis apoios, torneios desportivos, gincanas automóvel, tardes dançantes e imagine-se, fechar parte da cidade para a realização de um circuito de motos 50cc, com corredores e respectivas motas(Honda, Susuky e Florett de competição) a viajarem desde Lourenço Marques.
Raparigas e rapazes entre os 16 e os 19 anos, chave do Liceu na mão, em completa liberdade de movimentos e sobretudo de ideias, a gerir tempo, dinheiro, burocracia e os nossos próprios conflitos.
Objectivos: um baile "comme il faut", e a nossa "viagem de estudo" ( à Gorongosa e ao "Moulin Rouge" e "Primavera", na Beira, claro…)
Brilhante, o Manuel José Sargento ("Director Financeiro"), que fez render mais de uma centena de contos (à época), até às provas orais em Junho de 1970 (o último jantar).
Ninguém o tinha feito até aí, os sorrisos eram muitos, mas conseguimos!
Ficámos a dever isso ao apoio do "nosso" Reitor, Dr. José Miguel Morgado e da "nossa" professora de Filosofia, Dr.ª Fernanda Teixeira e sobretudo a nós próprios.
A decoração do Clube do Niassa por nossa conta, os ensaios para a valsa, as trocas de olhares, os primeiros namoricos, o Hélder Sabino sempre em cima de acontecimento que envolvesse o sexo oposto, o Marques Pinto feito mestre de "haute couture", o Luís Martins sempre na lua, o Fernando Jorge "ideologicamente" desconfiado da coisa, o Daniel sempre de pedra e cal com os seus amigos, o Jamú com o seu ar "blasée", Esteves, Roncon, João Guimarães, a Marilina, Minita, Paula Mendonça, Nelinha Alves, Diana, Isabel Sobral, Manuela Neves, Marília, Lourdes, Teresa Machado, Fernanda Neves, Lena Rocha, Luísa, a darem o melhor.
Ah! O Luís Magalhães a querer dirigir a banda, o que nunca conseguiu.
Tínhamos "adoptado", porque mais novo, e nos acompanhava para todo o lado (até nas ceias de creme de marisco , sorvete e scotch), isto de trabalhar muito, dá fome e sede..., um "finalista honorário", chama-se Carlos Manuel Queiroz, e toda a gente o conhece!
A festa foi de arromba e nunca vista na cidade, elas, lindas nos seus vestidos compridos, com os seus penteados e provavelmente, a primeira maquilhagem. Irreconhecíveis, não eram as mesmas de todos os dias!
Nós, esticadinhos no primeiro e talvez último "smoking", a fazer as honras da casa, também não destoávamos.
Foram democraticamente eleitos, o “Rei” e a “Rainha” dos finalistas, ela, a Paula Mendonça, ele, o Jamú Hassan!
Fizemos vir de Lourenço Marques, através do Luís Arriaga da "Onda Pop" o melhor conjunto do momento, os "Inflexos", de Nampula, actuaram os "Animais" do Jorge Cortez.
Duas bandas de gabarito para actuar em non-stop no baile e tarde dançante do dia seguinte.
Os "Inflexos" trouxeram da capital, luzes, estroboscópios, órgão Hammond, toda uma parafernália nunca vista, e, entre outras, duas músicas que tocaram vezes sem conta nessa noite e tarde seguinte.
As músicas que mais sentimos, foram, "Time Is Tight" dos Booker T & MG's e "Man Of The World", um original dos Fleetwood Mac
O Xico fez trint'anos inda outro dia. eu disse-lhe:
Ó Xico! estamos velhos!
Parece que foi ontem o tempo do liceu. O Zandamela quando chegou a minha casa era um miúdo a quem nós pregávamos partidas,
depois foi abrindo os olhos, aprendendo e às tantas, até fazia de piloto e tal.
Ó Xico, que belos tempos,
e de repente
estamos com trint'anos. Não demos por nada, não demos por tal, não adivinhávamos. Súbito começámos a aperceber-nos das coisas e das cores nas coisas. Era tudo belo por princípio: As brincadeiras malucas. o riso desordenado, as terríveis aventuras, as incursões até às Lagoas, as más notas todo o fim de período, e a paisagem certamente. .......... .......... ..........
Nós com trint'anos, o Amadeu com banca de advogado, uns no comércio, nas gasolineiras, em bancos, outros no mato e tantos dispersos pelas europas, e esta sensação de vazio e imposibilidade dentro de nós. Pois bem, tínhamos descoberto isto: A evidência de que algo terminara de facto e de que tudo se reorganizara, se transformara lentamente,
através da adolescência dos primeiros anos de maturidade.
......... ......... ..........
Eu disse isto ao Xico, e foi como se cá dentro se partisse qualquer coisa, porque há muito pensava nisto, mas não o havia concretizado, nem o dissera ainda a ninguém; como uma corda de guitarra esticada de mais que se quebrasse
sem um som, sem um gemido, sem um ai,
mas abrindo uma ferida funda. O Xico sorriu com aquele sorriso triste e inteligente, um sorriso a dizer-me que já sabia tudo. Em silêncio, depois, sentou-se ao piano e pousando nas teclas as mãos compridas como asas feriu alguns acordes do adágio da Patética. Calou-se, então. Calou-se e sorriu de novo. ...... ...... .......
Porque o Xico, morreu anteontem à tarde e foi a enterrar ontem à tardinha, num dia de sol claro e céu muito azul.
E, com a nitidez dos matizes e a verdade de estarmos descentrados da nossa louca invulnerabilidade, fui acompanhá-lo. Com os meus cabelos brancos ainda poucos e ainda jovens e os trint'anos sem ilusões, na tarde de sol claro e céu muito azul, onde apenas ocorria este facto de o sol estar claro e o céu muito azul, fui dizer-lhe adeus.
É ver ..... Meninas e Meninos bonitos, Trocar os vestidos e calções de chita, Por vestes encantadas de baile, Enfeitadas com as cores dos sonhos. Os seus olhinhos sorrindo Porque os versos do coração São de poesia inocente.
Foi num grande salão. Para Todos, O mesmo salão, A mesma musica, Cada um dançando Na mesma direcção E Numa direcção diferente.
MD
Devagar, devagarinho, Subo as escadas do palco. Com jeitinho, Afasto docemente as cortinas. Os meus olhos buscam cenas de tempos vividos. Os anos passaram ….. As lembranças são eternas. Os anos passaram…… Saudades! Sim…. Talvez…. e porque não? Se os meus sonhos foram tão altos Que ficaram escritos com letras de ouro! Esquecer? Porquê?..... Se a vida é um grande baile…. Onde as almas se encontram, se esbarram, Se unem, se separam Cada qual bailando nos conflitos, Nas esperanças….. Nas suavidades de todos os anos que se foram! Hoje, além de sorrir, Apetece-me rodopiar convosco Até ao luar de uma outra noite, Que mais uma vez se guardará, Como coisa, que em lembrança se recorrerá Um dia mais tarde……. Quando os anos voltarem a passar. Na partilha e no sonho Não há porta nem freio, Não há início nem fim, Escrito em letras de ouro, só meio. Apetece-me dizer obrigado. Apetece-me agradecer a Todos Amigos e Colegas Por um imperativo simplesmente gostável.
MD
A 8 de Novembro de 1969 realizou-se, no Clube do Niassa, o Baile de Finalistas 69/70 do Liceu Almirante Gago Coutinho de Nampula.
As aulas começaram como era hábito em Setembro, mas no final do 6º ano já estavam alinhavadas as primeiras ideias,"aulas" começadas, mãos à obra, corrida ao comércio local para os inevitáveis apoios, torneios desportivos, gincanas automóvel, tardes dançantes e imagine-se, fechar parte da cidade para a realização de um circuito de motos 50cc, com corredores e respectivas motas(Honda, Susuky e Florett de competição) a viajarem desde Lourenço Marques.
Raparigas e rapazes entre os 16 e os 19 anos, chave do Liceu na mão, em completa liberdade de movimentos e sobretudo de ideias, a gerir tempo, dinheiro, burocracia e os nossos próprios conflitos.
Objectivos: um baile "comme il faut", e a nossa "viagem de estudo" ( à Gorongosa e ao "Moulin Rouge" e "Primavera", na Beira, claro…)
Brilhante, o Manuel José Sargento ("Director Financeiro"), que fez render mais de uma centena de contos (à época), até às provas orais em Junho de 1970 (o último jantar).
Ninguém o tinha feito até aí, os sorrisos eram muitos, mas conseguimos!
Ficámos a dever isso ao apoio do "nosso" Reitor, Dr. José Miguel Morgado e da "nossa" professora de Filosofia, Dr.ª Fernanda Teixeira e sobretudo a nós próprios.
A decoração do Clube do Niassa por nossa conta, os ensaios para a valsa, as trocas de olhares, os primeiros namoricos, o Hélder Sabino sempre em cima de acontecimento que envolvesse o sexo oposto, o Marques Pinto feito mestre de "haute couture", o Luís Martins sempre na lua, o Fernando Jorge "ideologicamente" desconfiado da coisa, o Daniel sempre de pedra e cal com os seus amigos, o Jamú com o seu ar "blasée", Esteves, Roncon, João Guimarães, a Marilina, Minita, Paula Mendonça, Nelinha Alves, Diana, Isabel Sobral, Manuela Neves, Marília, Lourdes, Teresa Machado, Fernanda Neves, Lena Rocha, Luísa, a darem o melhor.
Ah! O Luís Magalhães a querer dirigir a banda, o que nunca conseguiu.
Tínhamos "adoptado", porque mais novo, e nos acompanhava para todo o lado (até nas ceias de creme de marisco , sorvete e scotch), isto de trabalhar muito, dá fome e sede..., um "finalista honorário", chama-se Carlos Manuel Queiroz, e toda a gente o conhece!
A festa foi de arromba e nunca vista na cidade, elas, lindas nos seus vestidos compridos, com os seus penteados e provavelmente, a primeira maquilhagem. Irreconhecíveis, não eram as mesmas de todos os dias!
Nós, esticadinhos no primeiro e talvez último "smoking", a fazer as honras da casa, também não destoávamos.
Foram democraticamente eleitos, o “Rei” e a “Rainha” dos finalistas, ela, a Paula Mendonça, ele, o Jamú Hassan!
Fizemos vir de Lourenço Marques, através do Luís Arriaga da "Onda Pop" o melhor conjunto do momento, os "Inflexos", de Nampula, actuaram os "Animais" do Jorge Cortez.
Duas bandas de gabarito para actuar em non-stop no baile e tarde dançante do dia seguinte.
Os "Inflexos" trouxeram da capital, luzes, estroboscópios, órgão Hammond, toda uma parafernália nunca vista, e, entre outras, duas músicas que tocaram vezes sem conta nessa noite e tarde seguinte.
A que mais sentimos, está aí, chama-se "Man Of The World", e é um original dos Fleetwood Mac
Fleetwood Mac
Adenda: repubicação de um "post " com pequenas modificações.
And now the end is near And so I face the final curtain My friend I'll say it clear I'll state my case of which I'm certain
I've lived a life that's full I traveled each and every highway And more, much more than this I did it my way
Regrets I've had a few But then again too few to mention I did what I had to do And saw it through without exemption
I planned each charted course Each careful step along the byway And more, much more than this I did it my way
Yes there were times I'm sure you knew When I bit off more than I could chew But through it all when there was doubt I ate it up and spit it out, I faced it all And I stood tall and did it my way
I've loved, I've laughed and cried I've had my fill, my share of losing And now as tears subside I find it all so amusing
To think I did all that And may I say not in a shy way Oh no, oh no, not me I did it my way
For what is a man what has he got If not himself then he has not To say the things he truly feels And not the words of one who kneels The record shows I took the blows And did it my way
Yes it was my way
Compositores: Claude Francois, Jacques Revaux, Gilles Thibaut ,
" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca
incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se
sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca,
ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e
imunizados. A mínima exposição a determinadas
circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis
recorrências e acabamos por arder na altíssima febre
de uma recidiva sem regresso nem apelo".
Rui Knopfli