Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

quinta-feira, 25 de junho de 2015

À Amélia



Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio".
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir
a despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
"Adeus! Adeus!"
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes...
(primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo... tão leve... tão subtil... tão pólen...
como aquela nuvem além (vêem?) — nesta tarde de Outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...

José Gomes Ferreira

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domingo, 21 de junho de 2015

Embriaga-te!



 Devemos andar sempre bêbedos. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar.
Mas com quê? Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus dum palácio, sobre as verdes ervas de uma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são: «São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.»

Charles Baudelaire

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segunda-feira, 15 de junho de 2015

With A Little Help From My Friends



Joe Cocker

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terça-feira, 2 de junho de 2015

Oh Very Young



Cat Stevens


Oh very young
What will you leave us this time
Youre only dancing on this earth for a short while
And though your dreams may toss and turn you now
They will vanish away like your daddys best jeans
Denim Blue fading up to the sky
And though you want him to last forever
You know he never will
(You know he never will )
And the patches make the goodbye harder still

Oh very young
What will you leave us this time
Therell never be a better chance to change your mind
And if you want this world to see a better day
Will you carry the words of love with you
Will you ride the great white bird into heaven
And though you want to last forever
You know you never will
(You know you never will )
And the goodbye makes the journey harder still

Oh very young
What will you leave us this time
Youre only dancing on this earth for a short while
Oh very young
What will you leave us this time

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