Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

domingo, 31 de maio de 2009

Amazing Grace


Victor Wooten

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quinta-feira, 28 de maio de 2009

As seis cordas...




A guitarra
faz soluçar os sonhos.

O soluço das almas

perdidas
foge por sua boca

redonda.

E, assim como a tarântula,

tece uma grande estrela

para caçar suspiros

que bóiam no seu negro

abismo de madeira.


Federico Garcia Lorca

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terça-feira, 26 de maio de 2009

Conçerto de Aranjuez


Paco de Lucia

No dia do Luís.

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domingo, 24 de maio de 2009

Reverência ao destino...




Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, e o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.



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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Metodologia


foto Digital no Indíco

Convoco os duendes da inquietação
e da alegria, urdindo um laborioso
rito circular, delicada teia iridiscente
de que, relutante, a luz se vá
pouco a pouco enamorando.


Palavras não as profiro

sem que antes as tenha encantado

de vagarosa ternura; mal esboçados,
gestos ou afagos, apenas me afloram

a hesitante extremidade dos dedos

que, aquáticos e transidos, estacam

no limiar surpreso do seu rosto.

Movimentos longos da tarde

e sussurros graves da noite

que tendessem para a imobilidade


e o silêncio, não seriam mais cautos
e aéreos. Quietas estátuas de cristal,

intensamente nos fitamos, enquanto

trémula, lenta e comburente,
a luz mais pura nos atravessa.


Rui Knopfli

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sexta-feira, 15 de maio de 2009

Isabelle


Leonard Cohen & Sonny Rollins

Ela, é tão solidária que hoje merece dois bomboms...


Charles Aznavour

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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Pátria



Um caminho de areia solta conduzindo a parte

nenhuma. As árvores chamavam-se casuarina,

eucalipto, chanfuta. Plácidos os rios também

tinham nome por que era costume designá-los.

Tal como as aves que sobrevoavam rente o matagal




e a floresta rumo ao azul ou ao verde mais denso

e misterioso, habitado por deuses e duendes

de uma mitologia que não vem nos tomos e tratados

que a tais coisas é costume consagrar-se. Depois,

com valados, elevações e planuras, e mais rios




entrecortando a savana, e árvores e caminhos,

aldeias, vilas e cidades com homens dentro,

a paisagem estendia-se a perder de vista

até ao capricho de uma linha imaginária. A isso

chamávamos pátria. Por vezes, de algum recesso




obscuro, erguia-se um canto bárbaro e dolente,

o cristal súbito de uma gargalhada, um soluço

indizível, a lasciva surdina de corpos enlaçados.

Ou tambores de paz simulando guerra. Esta

não se terá feito anunciar por tal forma




remota e convencional. Mas o sangue adubou

a terra, estremeceu o coração das árvores

e, meus irmãos, meus inimigos morriam. Uma

só e várias línguas eram faladas e a isso,

por estranho que pareça, também chamávamos pátria.




De quatro paredes restaram as paredes. Com as folhas

de zinco e a madeira ferida dos travejamentos

perfaziam uma casa. Partes de um corpo

desmembrado, dispersas ao acaso, vento e silêncio

as atravessam e nelas não dura a memória




que em mim, residual, subsiste. Sobre escombros deveria,

talvez, chorar pátria e infância, os mortos que

lhe precederam a morte, o primeiro e o derradeiro

amor. Quatro paredes tombadas ao acaso e isso bastou

para que, no que era só mundo, todo o mundo entrasse




e o polígono demarcado, conservando embora

a original configuração, fosse percorrido por

um arrepio estrangeiro, uma premonição de gelos

e inverno. Algo lhe alterara imperceptivelmente

o perfil, minado por secreta, pertinaz enfermidade.




Semelhante a qualquer outro, o lugar volvia meta

e ponto de partida, conceitos que, como a linha imaginária,

circunscrevem, mas de todo eludem, o essencial,

Ladeado de sombras e árvores, o caminho de areia,

que se dizia conduzir a parte alguma, abria




para o mundo. A experiência reduz, porém,

a segunda à primeira das asserções: pelo mundo

se alcança parte nenhuma; se restringe ficção

e paisagem ao exíguo mas essencial: legado

de palavras, pátria é só a língua em que me digo.



Rui Knopfli

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sábado, 9 de maio de 2009

Europa


Carlos Santana

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sexta-feira, 8 de maio de 2009

Chopinesque




Oh! taciturno
E esquivo
Motivo
Todo nocturno

Polpas macias
De dedos leves
Cintados por ametistas,
São organistas
Dos meus ditongos
Longos
E breves

Como contraste,
Para desgaste
Dos sons, veludo sobre cetim,
Vogais gritantes,
Tamborilantes,
Decapitantes,
Sons oxidantes
Como em clarim

E o taciturno
E esquivo
Motivo
Todo nocturno,
Sonha a palavra
Com arabescos
Da sua lavra.

Sonha a palavra,
Detesta a frase,
Sabe o encanto
Do que é só quase.

Por isso tende
Mas não atinge,
Porque transcende
Para a imagem
Visualizada
Duma paisagem
Subjectivada
Que nos dilata
Mas nos compreende,
Onde gravitam
Coisas errantes,
Em translacções
De percepções
Centrifugantes.


E são imensas
Por não sofrerem
Nem o tamanho
Nem dimensão;
E são intensas,
Porque não passam
Duma evasão
Das inconsciências
Que me contenho.

Tudo incoerências
Coisificadas;
Prelúdios, restos,
Rastos de gestos
Que nunca foram
Mais que eminências
Balbuciadas

Reinaldo Ferreira,”Poemas” Livro IV, Dispersos

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terça-feira, 5 de maio de 2009

A canção do mangusso...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Working Class Hero



Marianne Faithfull

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