Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Desencanto




Mas eu sabia tudo isso. Um poema faz-se para
dizer o que não se soube evitar, para substituir
confissões e decepções, para transformar em algo
de belo o que poderia conduzir à depressão,
ao fim de um mundo. Na verdade, há
ou não espaço para esta inquietação, para
a censura, a suspeita de que algo poderia ser
de outro modo, como se cada um de nós pudesse
ter o seu próprio caminho? Falo contigo: e
tu ouves-me, não me ouvindo, como eu te ouço
sem saber se é o que eu quero ouvir que vem
das tuas frases, ou se dizes o contrário do que
sentes para que eu sinta a verdade do que nenhum
de nós sente - a indiferença, a brancura da
emoção, um desejo de ruptura... Como se o amor
acabasse no meio do que não começou; ou
a distância pudesse apagar o que não tem fim.


Nuno Júdice, Cartografia de Emoções, Publicações Dom Quixote, 2001

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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sweet Jane

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domingo, 1 de agosto de 2010

Não passou


Foto Digital no Índico

Passou?
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.


Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão- a tua mão, nossas mãos-
rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos. Éramos?


Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós.
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado.


Carlos Drummond de Andrade

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