Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Bondade




A IO e o Gil, dois e-companheiros, resolveram brindar-me com este prémio,
acho que não mereço, eles são gente solidária e sobretudo dotados de uma bondade imensa.
Sensibilizado, agradeço, agradeço muito.

O Prémio Lemniscata pretende premiar «blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores». O significado de LEMNISCATA:LEMNISCATA: “curva geométrica com a forma semelhante à de um 8; lugar geométrico dos pontos tais que o produto das distâncias a dois pontos fixos é constante.” Lemniscato: ornado de fitas Do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores (In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora) Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.Texto da editora de “Pérola da cultura”

quarta-feira, 29 de julho de 2009

You're Sixteen (You're Beautiful And You're Mine)


Ringo Starr


Ho!


You come on like a dream, peaches and cream,
Lips like strawberry wine.
You're sixteen, you're beautiful and you're mine. (mine, all mine)

You're all ribbons and curls, ooh, what a girl,
Eyes that sparkle and shine.
You're sixteen, you're beautiful and you're mine.
(mine, all mine, mine, mine)

You're my baby, you're my pet,
We fell in love on the night we met.
You touched my hand, my heart went pop,
Ooh, when we kissed, i could not stop.

You walked out of my dreams, into my arms,
Now you're my angel divine.
You're sixteen, you're beautiful, and you're mine.

You're my baby, you're my pet,
We fell in love on the night we met.
You touched my hand, my heart went pop,
Ooh, when we kissed, i could not stop.

You walked out of my dreams, into my car,
Now you're my angel divine.
You're sixteen, you're beautiful, and you're mine.

You're sixteen, you're beautiful, and you're mine.

You're sixteen, you're beautiful, and you're mine.

All mine, all mine, all mine.

All mine, all mine, all mine.

All mine, all mine, all mine, all mine, but i do.

You are mine!


What shall we do with the drunken sailor?
What shall we do with the drunken sailor?

(Richard Sherman and Robert Sherman)

Há tinta e um anos, que, neste dia, esta música nunca me sai da cabeça.

Parabéns!

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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Esclarecimento a certo passo obscuro de uma biografia



E tu Poeta? Dois anos, duas vezes
trezentos e sessenta e cinco dias, é tempo.
Tempo de sobra. Seiscentos e trinta
alvoradas, seguidas de outros tantos poentes.
E os dias de permeio. Límpidos e claros,
como o amanhecer, como a brancura
implacável destas ruas, destes muros,
do aço brunido em que mar e céu se fundem.
Duro o pão e morno o espesso vinho,
iguais ao mormaço e ao vagar das horas
que nestas partes o fogo eterno acrescentam.
Fugias, por certo, ao brasido de S. Sebastião
até ao outro extremo, na Ponta da Ilha.
Ali é diferente o sal da brisa,
não rescende aos fumos da Índia,
nem à grande dor das cousas que passaram.
Respiravas então, talvez, aliviado.
Com a noite chegaria a insónia
ou o olvido, que não podiam
ser-te estranhos, a doçura árabe
destes rostos, o mistério nocturno destes corpos
a saberem a canela e maresia.
Depois vinha outro dia. E outro. E outro,
duas vezes trezentos e sessenta e cinco, sempre iguais e renovados em febre
e ansiedade, aceso o sonho imenso.
E incandescia o metal das palavras em que, só,
te desdobravas no clamoroso eco
que hoje vem sobressaltar-nos as madrugadas.
Que de conjecturas, de mágoas,
de projectos encetados e desfeitos,
de incidentes, sonhos breves,
esperanças vãs ou dilatadas
te curtiram e dilaceraram o peito,
jamais o saberemos.
Apenas se regista que, resgatado
pela amizade, partiste enfim,
ao cabo de duas vezes trezentos e sessenta e cinco dias bem contados.


Rui Knopfli

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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lourenço Marques (I've Been Loving You Too Long )



Carta para um amor

Cidade!,

nunca fui mais longe do que
à raia de Espanha.
Creio amar Paris,
conheço Paris dos filmes, a Concórdia
dos postais, a Torre Eiffel divulgada,
Hitler passando sob o Arco do Triunfo.
Amo Paris em Aragon e Eluard,
Paris dos pintores, Paris de Erenburgo.
Amo outras cidades, todas as grandes
cidades.
Madrid dos espanhóis e do coração despedaçado,
Stalinegrado das batalhas, Berlim do triunfo.
Nunca fui às grandes cidades,
amo-as porque os homens mas ensinaram
a amar.
Conheço Lisboa grande e colorida,
longe dos meus sentidos
e Johannesburg do ouro e do pó.
Nunca fui a New York ou São Paulo
do Brasil.
Chicago, Los Angeles, Londres,
Moscou, Rio, não conheço,
não conheço as grandes cidades,
que as há,
do estado de Massachusetts
ou da beira do Nilo.

Cidade!,
amo em retórica discursiva
as outras cidades.
Das viagens que tenho feito,
por rotas tão diferentes,
és sempre a meta, cidade que amo
desde sempre,
- para lá dos poetas, dos pintores,
dos filmes e da retórica discursiva.
Os nossos companheiros tiveram
a coragem de partir,
vivem nas grandes cidades, com história,
do mundo,
eu fui covarde e fiquei.
Experimentei, e não soube, viver longe de ti
noutras cidades.
Sei que este meu amor é a minha mediocridade
também,
a mediocridade de quem não teve asas
para subir mais alto
e orgulho, o orgulho que nada venceu,
nem o ser estranho na própria terra.
É uma ternura que escorre
das tuas tranquilas avenidas de acácias
e jacarandás,
dos claros prédios,
da população colorida,
da mansitude da baía,
do teu ar de provinciana janota.
Cidade, menina fútil
de pouca história,
carros pequenos nas ruas,
velas na baía, patinadores nos ringues,
terra de sete estuários,
de cinemas e cafés buliçosos,
de alegrias e pequenas traições,
leviana, ingénua, snob, bonita,
mulata, branca,
hindu, negra,
de cabelos louros e olhos amendoados,
morena sensual,
terra índica, minha terra,
minha amada inocente, prostituída.

Amo-te cidade da infância,
com girassóis e casa de madeira e zinco
a dormir na neblina da memória.
As quadrilhas de arco, flecha e pistola
de fulminantes,
os esconderijos da barreira,
o sexo e as coxas morenas de Xila,
a Sete de Março da política e dos antigos cafés,
a tristeza verde-negra do Enes,
o paço do senhor bispo
e S. Navio todos os meses.

Quebrou-se esse velho espanto
e nossos companheiros
tiveram a coragem
de partir para outras cidades,
com história, do mundo
(Para eles tua lembrança é
fugitiva mágoa).
Só,
eu fiquei abraçado a este amor anónimo.

Rui Knopfli







Otis Redding


... e em particular para dois laurentinos, a IO e o "Mangusso"

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quinta-feira, 23 de julho de 2009

O curandeiro



Lança os ossos e antevê futuro e curas.
Não, não é o mover das pedras na tlhuva.
A tin'tlhuva é um xadrez ancestral
praticado por competidores, mais
ou menos adestrados, no número

exacto dos buracos abertos no chão.
A sua tarefa é outra, porém: não
joga um jogo, joga com o futuro
que, aos poucos, julga entrever
nos dados lançados e seus críptícos

desígnios. A sua leitura, quase nunca
clara, é intrigante por vezes, feita
de hesitações e perplexidades sempre:
o futuro é um jogo de acasos,
nele uns se salvam, outros se perdem.



Rui Knopfli

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Hide In Your Shell

Supertramp

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terça-feira, 14 de julho de 2009

As palavras




Se escrevo não é para procurar a minha voz

a minha voz está em toda a parte embora não a ouça

É sempre precisa uma palavra como quem acende uma lâmpada

mesmo que seja apenas para iluminar uma página branca


Talvez só o leitor descubra a terra das palavras

e a voz que não é a minha como a voz do outro

Só ele talvez sinta a ferida que em mim não dói

porque escrever é sempre ir além do que se sente ou não


Não escrevo para ascender ou mergulhar no fundo

mas para evitar uma queda ou atolar-me num charco

Se o mundo é composto de apelos sufocados e vertiginosas linhas

quando o escutamos nada mais ouvimos do que o rumor da ausência

e não sabemos se ela é a dimensão do silêncio

ou a lentidão alheia do deserto


António Ramos Rosa

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domingo, 12 de julho de 2009

Nikon (Kodachrome)


Nikon F3



Já lá vão quase trinta anos e tenho pena de não lhe dar o uso que merece!

adenda

Kodachrome




Kodachrome
( Paul Simon )

When I think back
On all the crap I learned in high school
It's a wonder
I can think at all
And though my lack of education
Hasn't hurt me none
I can read the writing on the wall

Kodachrome
You give us those nice bright colors
You give us the greens of summers
Makes you think all the world's a sunny day, oh yeah!
I got a Nikon camera
I love to take a photograph
So Mama, don't take my Kodachrome away

If you took all the girls I knew
When I was single
And brought them all together for one night
I know they'd never match
My sweet imagination
And everything looks worse in black and white

Kodachrome
You give us those nice bright colors
You give us the greens of summers
Makes you think all the world's a sunny day, oh yeah!
I got a Nikon camera
I love to take a photograph
So Mama, don't take my Kodachrome away

Mama, don't take my Kodachrome away

Mama, don't take my Kodachrome away

Mama, don't take my Kodachrome away

Mama, don't take my Kodachrome
Mama, don't take my Kodachrome
Mama, don't take my Kodachrome (away)

Mama, don't take my Kodachrome
Mama, don't take my Kodachrome
Mama, don't take my Kodachrome (away)

Mama, don't take my Kodachrome
(Leave your boy so far from home)
Mama, don't take my Kodachrome (away)



... e a Kodak anunciou que nos vai roubar o Kodachrome

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sábado, 4 de julho de 2009

USA


Jimi Hendrix

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quarta-feira, 1 de julho de 2009

O Ponto


Mínimo sou.

Mas quando ao Nada empresto

A minha elementar realidade,

O Nada é só o resto.



Reinaldo Ferreira, poema autográfico, in "Poemas", Lourenço Marques, Imprensa Nacional de Moçambique, 1960.

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