"Eugénio de Andrade" a "Eugénio de Andrade"
Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.
Eugénio de Andrade
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" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli
Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.
Eugénio de Andrade
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Morre-se devagar neste país
onde é depressa a mágoa e a saudade
oh meu amor de longe quem me diz
Como é a tua sombra na cidade
Morre-se devagar em frente ao Tejo
repetindo o teu nome lentamente
cintura com cintura, beijo a beijo
e gritá-lo, abraçado, a toda a gente
Morre-se devagar e de morrer
fica a cinza de um corpo no olhar
oh meu amor a noite se vier
é seara de nós ao pé do mar
António Lobo Antunes, In: "Eu que me comovo por tudo e por nada",1992
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Etiquetas: António Lobo Antunes, Poesia
Percebia-se nas entrelinhas, e não me estava a agradar nada a ideia de ficar sem o “meu” Chuínga, é que ele é daqueles que cola mesmo, até debaixo da mesas, mas com alívio, vejo que o podemos descolar neste sítio, para um sabor sempre renovado.
A emoção é como um pássaro:
Quando se prende já não canta.
Mas se a gente a liberta,
Qualquer janela aberta
Lhe serve para fugir.
O poeta é aquele que numa praça
S. Marcos de Veneza transcendente,
E de todas as praças, praça ainda,
Aguarda na manhã que se insinua
Ou na tarde que finda
O voo que há-de vir.
Ele estende a mão,
Abre-a espalmada
Ao céu,
Que à anunciação de tudo ou nada
A emoção virá ou não
- Sem emoção, toda a poesia é nada –
Fiel à Anunciação que está marcada
Na sua condição.
Reinaldo Ferreira, ”Poemas”, Livro I – Um voo cego a nada
Etiquetas: Moçambique, Poesia, Reinaldo Ferreira
Escuto como se a pedra
cantasse. Como
se cantasse nas mãos do homem.
Um rumor de sangue ou ave
sobe no ar, canta com a pedra.
A pedra nas suas mãos
obscuras. Aquecida
com o seu calor de homem.
O seu ardor
de homem. Escuto
como se fora a minúscula
luz mortal que das entranhas
lhes subisse à garganta.
A sua mortalidade
de homem. Canta com a pedra.
Eugénio de Andrade
Etiquetas: Eugénio de Andrade, Poesia