" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca
incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se
sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca,
ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e
imunizados. A mínima exposição a determinadas
circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis
recorrências e acabamos por arder na altíssima febre
de uma recidiva sem regresso nem apelo".
Rui Knopfli
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Cry Baby
Janis Joplin
Cry baby, cry baby, cry baby, Honey, welcome back home.
I know she told you, Honey I know she told you that she loved you Much more than I did, But all I know is that she left you, And you swear that you just don’t know why, But you know, honey I’ll always, I’ll always be around if you ever want me Come on and cry, cry baby, cry baby, cry baby, Oh honey, welcome back home.
Don’t you know, honey, Ain’t nobody ever gonna love you The way I try to do ? Who’ll take all your pain, Honey, your heartache, too ? And if you need me, you know That I’ll always be around if you ever want me Come on and cry, cry baby, cry baby, cry baby, Oh daddy, like you always saying to do.
And when you walk around the world, babe, You said you’d try to look for the end of the road, You might find out later that the road’ll end in Detroit, Honey, the road’ll even end in Kathmandu. You can go all around the world Trying to find something to do with your life, baby, When you only gotta do one thing well, You only gotta do one thing well to make it in this world, babe. You got a woman waiting for you there, All you ever gotta do is be a good man one time to one woman And that’ll be the end of the road, babe, I know you got more tears to share, babe, So come on, come on, come on, come on, come on, And cry, cry baby, cry baby, cry baby.
And if you ever feel a little lonely, dear, I want you to come on, come on to your mama now, And if you ever want a little love of a woman Come on and baby baby baby babe babe baby now Cry baby yeah.
Fiz ranger as folhas de jornal abrindo-lhes as pálpebras piscantes. E logo de cada fronteira distante subiu um cheiro de pólvora perseguindo-me até em casa. Nestes últimos vinte anos nada de novo há no rugir das tempestades.
Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas.
Anda tudo do avesso
Nesta rua que atravesso
Dão milhões a quem os tem
Aos outros um passou - bem
Não consigo perceber
Quem é que nos quer tramar
Enganar
Despedir
E ainda se ficam a rir
Eu quero acreditar
Que esta merda vai mudar
E espero vir a ter
Uma vida bem melhor
Mas se eu nada fizer
Isto nunca vai mudar
Conseguir
Encontrar
Mais força para lutar...
(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer
É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar
A enganar
o povo que acreditou
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar...
(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Mas eu sou um homem honesto
Só errei na profissão
Sócrates, O Ditador "A saída de António Costa para a Câmara de Lisboa pode ser interpretada de muitas maneiras. Mas, se as intenções podem ser interessantes, os resultados é que contam.
Entre estes, está o facto de o candidato à Autarquia se ter afastado do Governo e do Partido, o que deixa Sócrates praticamente sozinho à frente de um e de outro. Único senhor a bordo tem um mestre e uma inspiração. Com Guterres, o primeiro-ministro aprendeu a ambição pessoal, mas, contra ele, percebeu que a indecisão pode ser fatal.
A ponto de, com zelo, se exceder: prefere decidir mal, mas rapidamente, do que adiar para estudar. Em Cavaco, colheu o desdém pelo seu partido. Com os dois e com a sua própria intuição autoritária, compreendeu que se pode governar sem políticos.
Onde estão os políticos socialistas? Aqueles que conhecemos, cujas ideias pesaram alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado? Uns saneados, outros afastados. Uns reformaram-se da política, outros foram encostados. Uns foram promovidos ao céu, outros mudaram de profissão. Uns foram viajar, outros ganhar dinheiro. Uns desapareceram sem deixar vestígios, outros estão empregados nas empresas que dependem do Governo. Manuel Alegre resiste, mas já não conta.
Medeiros Ferreira ensina e escreve. Jaime Gama preside sem poderes. João Cravinho emigrou. Jorge Coelho está a milhas de distância e vai dizendo, sem convicção, que o socialismo ainda existe. António Vitorino, eterno desejado, exerce a sua profissão.
Almeida Santos justifica tudo. Freitas do Amaral reformou-se. Alberto Martins apagou-se. Mário Soares ocupa-se da globalização. Carlos César limitou-se definitivamente aos Açores. João Soares espera. Helena Roseta foi à sua vida independente. Os grandes autarcas do partido estão reduzidos à insignificância. O Grupo Parlamentar parece um jardim-escola sedado. Os sindicalistas quase não existem. O actual pensamento dos socialistas resume-se a uma lengalenga pragmática, justificativa e repetitiva sobre a inevitabilidade do governo e da luta contra o défice. O ideário contemporâneo dos socialistas portugueses é mais silencioso do que a meditação budista. Ainda por cima, Sócrates percebeu depressa que nunca o sentimento público esteve, como hoje, tão adverso e tão farto da política e dos políticos. Sem hesitar, apanhou a onda.
Desengane-se quem pensa que as gafes dos ministros incomodam Sócrates. Não mais do que picadas de mosquito. As gafes entretêm a opinião, mobilizam a imprensa, distraem a oposição e ocupam o Parlamento. Mas nada de essencial está em causa. Os disparates de Manuel Pinho fazem rir toda a gente. As tontarias e a prestidigitação estatística de Mário Lino são pura diversão. E não se pense que a irrelevância da maior parte dos ministros, que nada têm a dizer para além dos seus assuntos técnicos, perturba o primeiro-ministro. É assim que ele os quer, como se fossem directores-gerais. Só o problema da Universidade Independente e dos seus diplomas o incomodou realmente. Mas tratava-se, politicamente, de questão menor. Percebeu que as suas fragilidades podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo. Mas nada de semelhante se repetirá.
O estilo de Sócrates consolida-se. Autoritário. Crispado. Despótico. Irritado. Enervado.
Detesta ser contrariado. Não admite perguntas que não estavam previstas. Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber. Deseja ter tudo quanto vive sob controlo.
Tem os seus sermões preparados todos os dias. Só ele faz política, ajudado por uma máquina poderosa de recolha de informações, de manipulação da imprensa, de propaganda e de encenação. O verdadeiro Sócrates está presente nos novos bilhetes de identidade, nas tentativas de Augusto Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na teimosia descabelada de Mário Lino, na concentração das polícias sob seu mando e no processo que o Ministério da Educação abriu contra um funcionário que se exprimiu em privado. O estilo de Sócrates está vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já de medo e apreensão. A austeridade administrativa e orçamental ameaça a tranquilidade de cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão pode ser onerosa. A imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à informação. As empresas conhecem as iras do Governo e fazem as contas ao que têm de fazer para ter acesso aos fundos e às autorizações.
Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e sem oposição à altura, Sócrates trata de si. Rodeado de adjuntos dispostos a tudo e com a benevolência de alguns interesses económicos, Sócrates governa. Com uma maioria dócil, uma oposição desorientada e um rol de secretários de Estado zelosos, ocupa eficientemente, como nunca nas últimas décadas, a Administração Pública e os cargos dirigentes do Estado. Nomeia e saneia a bel-prazer. Há quem diga que o vamos ter durante mais uns anos. É possível. Mas não é boa notícia. É sinal da impotência da oposição. De incompetência da sociedade. De fraqueza das organizações. E da falta de carinho dos portugueses pela liberdade. "
Voando vai para a praia Leonor na estrada preta Vai na brasa de lambreta.
Leva calções de pirata, Vermelho de alizarina modelando a coxa fina de impaciente nervura. Como guache lustroso, amarelo de indantreno blusinha de terileno desfraldada na cintura.
Foge, foge, Leonoreta. Vai na brasa de lambreta. Agarrada ao companheiro na volúpia da escapada pincha no banco traseiro em cada volta da estrada. Grita de medo fingido, que o receio não é com ela, mas por amor e cautela abraça-o pela cintura. Vai ditosa, e bem segura.
Como rasgão na paisagem corta a lambreta afiada, engole as bermas da estrada e a rumorosa folhagem. Urrando, estremece a terra, bramir de rinoceronte, enfia pelo horizonte como um punhal que enterra. Tudo foge à sua volta, o Céu, as nuvens, as casas, e com os bramidos que solta lembra um demónio com asas.
Na confusão dos sentidos já nem percebe, Leonor, se o que lhe chega aos ouvidos são ecos de amor perdidos se os rugidos do motor.
Hot town summer in the city back of my neck getting dirty and gritty I been down isn't it a pity doesn't seem to be a shadow in the city all around people looking half dead walking on the sidewalk hotter than a match-head
But at night it's a different world go out and find a girl come on come on and dance all night despite the heat it will be alright and babe don't you know it's a pity the days can't be like the night in the summer in the city in the summer in the city
Cool town evening in the city dressed so fine and looking so pretty cool cat looking for a kitty gonna look in every corner of the city till I'm weezing like a bus stop running up the stairs gonna meet you on the roof top
But at night it's a different world go out and find a girl come on come on, let's dance all night despite the heat it will be alright and baby don't you know it's a pity the days can't be like the night in the summer in the city in the summer in the city
But at night it's a different world go out and find a girl come on come on dance all night despite the heat it will be alright and baby don't you know it's a pity the days can't be like the night in the summer in the city in the summer in the city
Summer in the city hot town summer in the city baby girl a cool town evening in the city yea the back of my neck getting dirty and gritty living in the city in the summertime baby cool down cool down hot town evening in the city oh it's a different world
Uma gargalhada do meu filho rouba-me um verso. Era, se não erro, um verso largo, enxuto e musical. Era bom e certeiro, acreditem esse verso arisco e difícil, que se soltara dentro de mim. Mas meu filho riu e o verso despenhou-se no cristal ingénuo e fresco desse riso. Meu Deus, troco todos os meus versos mais perfeitos pelo riso antigo e verdadeiro de meu filho.
Rui Knopfli
Father and Son
Cat Stevens Father It's not time to make a change, Just relax, take it easy. You're still young, that's your fault, There's so much you have to know. Find a girl, settle down, If you want you can marry. Look at me, I am old, but I'm happy.
I was once like you are now, and I know that it's not easy, To be calm when you've found something going on. But take your time, think a lot, Why, think of everything you've got. For you will still be here tomorrow, but your dreams may not.
Son How can I try to explain, when I do he turns away again. It's always been the same, same old story. From the moment I could talk I was ordered to listen. Now there's a way and I know that I have to go away. I know I have to go.
Father It's not time to make a change, Just sit down, take it slowly. You're still young, that's your fault, There's so much you have to go through. Find a girl, settle down, if you want you can marry. Look at me, I am old, but I'm happy.
Son All the times that I cried, keeping all the things I knew inside, It's hard, but it's harder to ignore it. If they were right, I'd agree, but it's them you know not me. Now there's a way and I know that I have to go away. I know I have to go.
Stay for just a while Stay and let me look at you It's been so long, I hardly knew you Standing in the door
Stay with me a while I only wanna talk to you We've traveled halfway 'round the world To find ourselves again
September morn We danced until the night Became a brand new day Two lovers playing scenes From some romantic play September morning Still can make me feel that way
Look at what you've done Why, you've become a grown-up girl I still can hear you crying In a corner of your room And look how far we've come So far from where we used to be But not so far that we've forgotten How it was before
September morn Do you remember How we danced that night away Two lovers playing scenes From some romantic play September morning Still can make me feel that way
September morn We danced until the night Became a brand new day Two lovers playing scenes From some romantic play September morning Still can make me feel that way
September morn We danced until the night Became a brand new day Two lovers playing scenes From some romantic play September morning Still can make me feel that way September morning Still can make me feel that way
«A República Velha nada alterou das tradições desonrosas da Monarquia. Mudou apenas a maneira de cometer os erros; os erros continuaram sendo os mesmos. Em vez de um regímen católico, um regímen anticatólico, isto é, um regímen que logo arregimentava como inimigos os católicos. Em vez de uma República portuguesa, de um regímen nacional, uma república francesa em Portugal. E assim como a Monarquia Constitucional havia sido um sistema inglês (ou anglo-francês) sobreposto à realidade da Pátria Portuguesa, a República Velha foi um sistema francês sobreposto à mesma realidade pátria. No que respeita aos erros de administração – a incompetência, a imoralidade, o caciquismo – ficámos na mesma, mudando apenas os homens que faziam asneiras, que praticavam roubos e que escamoteavam "eleições". De sorte que a República Velha era a Monarquia sem Rei. Por isso é justo dizer que o 8 de Dezembro foi a queda da Segunda Monarquia. Como podiam deixar de ser assim? Os homens do Partido Republicano tinham a mesma hereditariedade nacional, tinham vivido no mesmo meio que os da Monarquia; porque milagre teriam uma mentalidade diferente? Se Portugal tivesse regiões diferentes, nitidamente diferentes, se a Revolução de 5 de Outubro tivesse trazido para o poder homens de uma região diferente daquela de onde soessem provir os homens da Monarquia, então haveria homens diferentes no poder. Mas eram os mesmos políticos profissionais, os mesmos advogados da mesma Coimbra, os mesmos copistas da França – como podiam ter mentalidade diferente?»
Neil Diamond L.A.'s fine, the sun shines most the time And the feeling is "lay back" Palm trees grow and rents are low But you know I keep thinkin' about Making my way back
Well I'm New York City born and raised But nowadays, I'm lost between two shores L.A.'s fine, but it ain't home New York's home, But it ain't mine no more
"I am"... I said To no one there And no one heard at all Not even the chair
"I am"... I cried "I am"... said I And I am lost and I can't Even say why Leavin' me lonely still
Did you ever read about a frog Who dreamed of bein' a king And then became one Well except for the names And a few other changes If you talk about me The story's the same one
But I got an emptiness deep inside And I've tried But it won't let me go And I'm not a man who likes to swear But I never cared For the sound of being alone
"I am"... I said To no one there And no one heard at all Not even the chair "I am"... I cried "I am"... said I And I am lost and I can't Even say why "I am"... I said "I am"... I cried "I am"... I said
Foto Petra Nemcova "Quando te sentires perdida fecha os olhos e sorri. Não tenhas medo da Vida que a Vida vive por si. Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo que sabem tudo desde o princípio do mundo. Tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo. A tua inocência sabe tudo." MD
Us, and them And after all we're only ordinary men. Me, and you. God only knows it's noz what we would choose to do. Forward he cried from the rear and the front rank died. And the general sat and the lines on the map moved from side to side. Black and blue And who knows which is which and who is who. Up and down. But in the end it's only round and round. Haven't you heard it's a battle of words?, the poster bearer cried. Listen son, said the man with the gun There's room for you inside.
Down and out It can't be helped but there's a lot of it about. With, without. And who'll deny it's what the fighting's all about? Out of the way, it's a busy day I've got things on my mind. For the want of the price of tea and a slice The old man died.
Waters, Wright
Versão da Tour Pulse de 1994, iniciada em Lisboa (Julho) no Estádio José Alvalade com dois espectáculos, estive lá.
Não sei como vieste, mas deve haver um caminho para regressar da morte.
Estás sentada no jardim, as mãos no regaço cheias de doçura, os olhos pousados nas últimas rosas dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda?
Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória.
Com que palavras ou beijos ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir, sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem, parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim.
" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca
incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se
sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca,
ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e
imunizados. A mínima exposição a determinadas
circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis
recorrências e acabamos por arder na altíssima febre
de uma recidiva sem regresso nem apelo".
Rui Knopfli