Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Winds of change




Ninguém se apercebe de nada.

Brilha um sol violento como a loucura
e estalam gargalhadas na brancura
violeta do passeio.
É África garrida dos postais,
o fato de linho, o calor obsidiante
e a cerveja bem gelada.
Passam. Passam
e tornam a passar.
Estridem mais gargalhadas,
abrindo uma sobre as outras
como círculos concêntricos.
Os moleques algaraviam, folclóricos,
pelas sombras das esquinas
e no escuro dos portais
adolescentes namoram de mãos dadas.
De facto como é mansa e boa
a Polana
nas suas ruas, túneis de frescura
atapetados de veludo vermelho.
Tudo joga tão certo, tudo está
tão bem
como num filme tecnicolorido.
Passam. Passam
e tornam a passar.
Ninguém se apercebe de nada.

Rui Knopfli


Boomp3.com

Etiquetas: , , ,

domingo, 28 de setembro de 2008

Le soleil donne



Tape sur nos systèmes

L'envie que tout le monde s'aime

Le soleil donne



Ce vieux désir super

Qu'on serait tous un peu frères

Le soleil donne



Le soleil donne

De l'or intelligent

Le soleil donne

La même couleur aux gens

La même couleur aux gens

Gentiment



L'envie que tout le monde s'aime

Le soleil donne

Ce vieux désir super

Qu'on serait tous un peu frères

Le soleil donne



Le soleil donne

De l'or intelligent

Le soleil donne

La même couleur aux gens

La même couleur aux gens

Gentiment


Laurent Voulzy

O "mangusso" voltou, e em plena forma...


Etiquetas: ,

sábado, 27 de setembro de 2008

Romance sonâmbulo



(A Gloria Giner e a
Fernando de los Rios)


Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas estão mirando-a
e ela não pode mirá-las.

Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha
nascem com o peixe de sombra
que rasga o caminho da alva.
A figueira raspa o vento
a lixá-lo com as ramas,
e o monte, gato selvagem,
eriça as piteiras ásperas.

Mas quem virá? E por onde?...
Ela fica na varanda,
verde carne, tranças verdes,
ela sonha na água amarga.
— Compadre, dou meu cavalo
em troca de sua casa,
o arreio por seu espelho,
a faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde as passagens de Cabra.
— Se pudesse, meu mocinho,
esse negócio eu fechava.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Compadre, quero morrer
com decência, em minha cama.
De ferro, se for possível,
e com lençóis de cambraia.
Não vês que enorme ferida
vai de meu peito à garganta?
— Trezentas rosas morenas
traz tua camisa branca.
Ressuma teu sangue e cheira
em redor de tua faixa.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Que eu possa subir ao menos
até às altas varandas.
Que eu possa subir! que o possa
até às verdes varandas.
As balaustradas da lua
por onde retumba a água.

Já sobem os dois compadres
até às altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremiam pelos telhados
pequenos faróis de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.

Verde que te quero verde,
verde vento, verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O vasto vento deixava
na boca um gosto esquisito
de menta, fel e alfavaca.
— Que é dela, compadre, dize-me
que é de tua filha amarga?
— Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
rosto fresco, negras tranças,
aqui na verde varanda!

Sobre a face da cisterna
balançava-se a gitana.
Verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Ponta gelada de lua
sustenta-a por cima da água.
A noite se fez tão íntima
como uma pequena praça.
Lá fora, à porta, golpeando,
guardas-civis na cachaça.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar.
E o cavalo na montanha.

Frederico Garcia Lorca, in "Antologia Poética", Editora Leitura S. A. – Rio de Janeiro, 1966, tradução e selecção de Afonso Félix de Sousa.

Etiquetas: ,

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Heart of Gold



Hoje, é o dia do Rui Alexandre, meu filho, concerteza o meu único sentimento de posse!





Neil Young

Etiquetas: , ,

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Message personnel


Françoise Hardy

au bout de téléphone il y a votre voix 
et il y a les mots que je ne dirai pas 
tous ces mots qui font peur quand ils ne font pas rire 
qui sont dans trop de films, de chansons et de livres 
je voudrais vous les dire et je voudrais les vivre 
je ne le ferai pas : je veux, je ne peux pas 

je suis seule à crever et je sais où vous êtes
 
j'arrive, attendez-moi, nous allons nous connaître 
préparez votre temps, pour vous j'ai tout le mien 
je voudrais arriver, je reste, je me déteste 
je n'arriverai pas : je veux, je ne peux pas

je devrais vous parler, je devrais arriver ou je devrais 
dormir 
j'ai peur que tu sois sourd, j'ai peur que tu sois lâche 
j'ai peur d'être indiscrète 
je ne peux pas vous dire que je t'aime peut-être 
mais si tu crois un jour que tu m'aimes 
ne crois pas que tes souvenirs me gênent 
et cours, cours jusqu'à perdre haleine 
viens me retrouver 
si tu crois un jour que tu m'aimes 
et si ce jour-là tu as de la peine 
à trouver où tous ces chemins te mènent 
viens me retrouver 


Texte : F. Hardy/ M. Berger
Musique : M. Berger


Etiquetas: , ,

sábado, 13 de setembro de 2008

Procura-se um amigo




Procura-se um amigo, não é preciso que seja homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração.

Deve saber compartilhar dores e alegrias, precisa saber falar e saber calar; e, sobretudo: saber ouvir.

Tem que gostar de poesia, da madrugada, de música, do sol e da luz, criações de Deus.

Deve ter um grande amor por alguém, ou então, sentir falta de não ter esse amor


Procura-se um amigo que saiba guardar segredo, sem se sacrificar.

Não é preciso ser de primeira mão, não é imprescindível ser de segunda;

pode ter sido enganado, pode ter cometido faltas.

Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, pode ser pecador;

mas... não deve ser vulgar

Tem que sentir os dias tristes e saber respeitá-los

Tem que saber renunciar em favor de alguém.


Procura-se um amigo que tenha um ideal, e no caso de não o ter, deve sentir o grande vácuo que isto deixa.

Tem que ter ressonâncias humanas;

Tem que ter vontade de integrar o mundo, e caso não tenha realizado, este não deverá ser um dos seus principais objetivos na vida, sendo que o seu principal objetivo seja: ser amigo.

Deve sentir misericórdia das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.

Deve ter pena dos que tiveram e perderam coisas queridas.

Deve gostar de crianças.

Tem que ser Dom Quixote, sem, contudo desprezar Sancho.


Procura-se um amigo para passear, gostar dos mesmos gostos, ouvir música, ler a Bíblia.

Um amigo que se entristeça com uma separação, que fique comovido com todo coração e deseja nossa volta para breve. Que não se comova quando chamado de amigo.


Procura-se um amigo para não enlouquecer;

para se poder contar o que viu de belo e de triste durante o dia, dos sustos, das tristezas e das alegrias.

Um amigo que não fale em políticas;

que saiba conversar de coisas simples;

do orvalho, das chuvas e das recordações da infância.

À que se diga porque tal coisa é assim;

e que se possa dizer coisas íntimas.

Um amigo que não tenha medo de apontar um defeito, porque todos nós temos, e que quando o faça, saiba como fazê-lo.


Procura-se um amigo que não viva debruçado no passado, mas que relembre, em busca de boas e más memórias;

que saiba dar esmolas a quem mereça, e, que quando der faça às escondidas, não para que os outros saibam, mas somente o Senhor Deus que está nos céus;

que nos bata no ombro sorrindo ou chorando, mas nos chame de amigo.


Procura-se um amigo que nos diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo e para não fazê-lo sofrer.

Procura-se um amigo que creia em nós;

que não seja irónico: que saiba nos defender de coração livre e com toda a franqueza quando formos atacados.


Procura-se um amigo para se ter consciência de que ainda se vive.

Por favor, procura-se um amigo!

Mas um amigo que, principalmente, saiba agradecer a Deus pelo que tem.


Vinícius de Moraes


A ausência, ainda que temporária e forçada, de Carlos Gil, vai sentir-se por aqui...

Etiquetas: , ,

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Killing Me Softly With His Song



Roberta Flack

Etiquetas: ,

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Lady D'Arbanville



My lady d'arbanville, why do you sleep so still?

I'll wake you tomorrow
And you will be my fill, yes, you will be my fill.

My lady d'arbanville why does it grieve me so?
But your heart seems so silent.
Why do you breathe so low, why do you breathe so low,

My lady d'arbanville why do you sleep so still?
Ill wake you tomorrow
And you will be my fill, yes, you will be my fill.

My lady d'arbanville, you look so cold tonight.
Your lips feel like winter,
Your skin has turned to white, your skin has turned to white.

My lady d'arbanville, why do you sleep so still?
I'll wake you tomorrow
And you will be my fill, yes, you will be my fill.

La la la la la....

My lady d'arbanville why does it grieve me so?
But your heart seems so silent.
Why do you breathe so low, why do you breathe so low,

I loved you my lady, though in your grave you lie,
I'll always be with you
This rose will never die, this rose will never die.

I loved you my lady, though in your grave you lie,
I'll always be with you
This rose will never die, this rose will never die.

Cat Stevens

Talvez esta letra inspire um certo "frade" que por aí anda à solta!!!
(era suposto ser um pouco mais pesada, mas os "America" sossegaram-me a "passarinha"...)

P.S. Não é música de "boite", mas, foi concerteza, uma das mais bonitas canções românticas à época.


"I Think I See the Light"



I used to trust nobody, trusting even less their words
Until I found somebody, there was no one I preferred
My heart was made of stone, my eyes saw only misty gray
Until you came into my life girl, I saw everyone that way

Until I found the one I needed at my side
I think I would have been a sad man all my life

I think I see the light coming to me
Coming through me, giving me a second sight
So shine, shine, shine, shine, shine, shine
Shine, shine, shine

I used to walk alone, every step seemed the same
This world was not my home, so there was nothing much to gain
Look up and see the clouds, look down and see the cold floor
Until you came into my life girl, I saw nothing, nothing more

Until I found the one I needed at my side
I think I would have been a sad man all my life

I think I see the light coming to me
Coming through me, giving me a second sight
So shine, shine, shine, shine, shine, shine
Shine, shine, shine

I think I see the light coming to me
Coming through me, giving me a second sight
So shine, shine, shine, shine, shine, shine
Shine, shine, shine, shine, shine, shine
Shine, shine, shine, shine, shine, shine

Cat Stevens
do filme Harold & Maud


Adenda (07.55)
Eu juro que não me confessei ao "frei", que este "post" já estava programado à uns dias e começo a crer que ele tem dotes de bruxaria...

Etiquetas: ,

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Air Race Porto 2008








Fotos Sapo

Ontem, estive aqui!

domingo, 7 de setembro de 2008

Supernaut



Black Sabbath

Eh!, Eh, Eh!

Etiquetas: ,

sábado, 6 de setembro de 2008

Pátria minha


Foto Digital no Índico
......

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...

Vinicius de Moraes."

Etiquetas: , ,

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

«Rockollection»



On a tous dans l' cœur

Une petite fille oubliée

Une jupe plissée, queue d' cheval

À la sortie du lycée

On a tous dans l' cœur

Un morceau d' ferraille usé

Un vieux scooter de rêve

Pour faire le cirque dans l' quartier

Et la p'tite fille chantait

(Et la p'tite fille chantait)

Et la p'tite fille chantait

(Et la p'tite fille chantait)

Un truc qui m' colle encore

Au cœur et au corps



Da doo ron ron



On a tous dans l' cœur

Le ticket pour Liverpool

Sortie d' scène, hélicoptère

Pour échapper à la foule

Excuse-me Sir mais j'entends plus

Big-Ben qui sonne

Les scarabées bourdonnent

C'est la folie à London

Et les Beatles chantaient

(Et les Beatles chantaient)

Et les Beatles chantaient

(Et les Beatles chantaient)

Un truc qui m' colle encore

Au cœur et au corps



I want to hold your hand



Ticket to ride


À quoi ça va m' servir

D'aller m' faire couper les tifs ?

Est-ce que ma vie s'ra mieux

Une fois qu' j'aurai mon certif' ?

Betty a rigolé

Devant ma boule à zéro

J' lui ai dit "Si ça t 'plaît pas

T'as qu'à te plaindre au dirlo !"

Et j' me suis fais virer

(Et j' me suis fais virer)

Et le juke-box jouait

(Et le juke-box jouait)

Un truc qui m' colle encore

Au cœur et au corps




No milk today



On a tous dans l' cœur

Des vacances à Saint-Malo

Et des parents en maillot

Qui dansent chez Luis Mariano,

Au Camping des flots bleus

J' me traîne des tonnes de cafard

Si j'avais bossé un peu

J' me serais payé une guitare

Et Saint-Malo dormait

(Et Saint-Malo dormait)

Et les radios chantaient

(Et les radios chantaient)

Un truc qui m' colle encore

Au cœur et au corps



With a girl like you




Pretty woman



Au café d' ma banlieue

T'as vu la bande à Jimmy

Ça frime pas mal,

Ça roule autour du baby

Le pauvre Jimmy s'est fait piquer

Chez l' disquaire, c'est dingue

Avec un single des Stones

Caché sous ses fringues

Et les loulous roulaient

(Et les loulous roulaient)

Et les cailloux chantaient

(Et les cailloux chantaient)

Un truc qui m' colle encore

Au cœur et au corps



Paint it black



Ruby Tuesday



Jumping Jack flash



Satisfaction



Le jour où j' vais partir

Je sens bien qu' ça va faire mal

Ma mère aime pas mon blouson

Et les franges de mon futal

Le long des autoroutes

Il y a de beaux paysages

J'ai ma guitare sur le dos

Et pas d' ronds pour le voyage

Et les rêveurs rêvaient

(Et les rêveurs rêvaient)

Et les rêveurs chantaient

(Et les rêveurs chantaient)

Un truc qui m'colle encore

Au cœur et au corps



Turn, turn, turn



L'amour avec toi


Laissez-moi passer

J'ai mes papiers, mon visa

Je suis déjà dans l'avion

Going to America

Même si j' reste ici

Que j' passe ma vie à Nogent

J'aurai une vieille Chevrolet

Et dix huit filles dedans

Et les Bee Gees chantaient

(Et les Bee Gees chantaient)

Et les Bee Gees chantaient

(Et les Bee Gees chantaient)

Un truc qui m' colle encore

Au cœur et au corps



Massachusetts



How deep is your love



Saturday night fever




More than a woman



Au printemps soixante-six

J' suis tombé fou amoureux

Ça m'a fait plutôt du mal

J'avais de l'eau dans les yeux

Ma p'tite Poupie, j' t'emmène

Dans le pays d' mes langueurs

Elle fait douceur, douceur,

La musique que j'ai dans l' cœur

Toute la nuit, on s'aimait

Quand les radios chantaient



Good vibrations



Substitute



Penny Lane



Sunny afternoon



Maintenant, j'ai une guitare

Et j 'voyage organisé

J' me lève tous les jours trop tard

Et j' vis aux Champs-Élysées

J'suis parti je n' sais où

Mais pas où j' voulais aller

Dans ma tête, y a des trous

J' me souviens plus des couplets

Y a des rêves qui sont cassés

Des airs qui partent en fumée

Des trucs qui m' collent encore

Au cœur et au corps



California dreamin'



Laurent Voulzy

Esta, é para saudar a IO, e desejar-lhe uns bons "auguri".

Etiquetas: ,

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Realidade



Sim, passava aqui frequentemente há vinte anos...
Nada está mudado — ou, pelo menos, não dou por isto —
Nesta localidade da cidade ...

Há vinte anos!...
O que eu era então! Ora, era outro...
Há vinte anos, e as casas não sabem de nada...

Vinte anos inúteis (e sei lá se o foram!
Sei eu o que é útil ou inútil?)...
Vinte anos perdidos (mas o que seria ganhá-los?)

Tento reconstruir na minha imaginação
Quem eu era e como era quando por aqui passava
Há vinte anos...
Não me lembro, não me posso lembrar.

O outro que aqui passava, então,
Se existisse hoje, talvez se lembrasse...
Há tanta personagem de romance que conheço melhor por dentro
De que esse eu-mesmo que há vinte anos passava por aqui!

Sim, o mistério do tempo.
Sim, o não se saber nada,
Sim, o termos todos nascido a bordo
Sim, sim, tudo isso, ou outra forma de o dizer...

Daquela janela do segundo andar, ainda idêntica a si mesma,
Debruçava-se então uma rapariga mais velha que eu, mais lembradamente de azul.
Hoje, se calhar, está o quê?
Podemos imaginar tudo do que nada sabemos.
Estou parado física e moralmente: não quero imaginar nada...

Houve um dia em que subi esta rua pensando alegremente no futuro,
Pois Deus dá licença que o que não existe seja fortemente iluminado,
Hoje, descendo esta rua, nem no passado penso alegremente.
Quando muito, nem penso...
Tenho a impressão que as duas figuras se cruzaram na rua, nem então nem agora,
Mas aqui mesmo, sem tempo a perturbar o cruzamento.

Olhamos indiferentemente um para o outro.
E eu o antigo lá subi a rua imaginando um futuro girassol,
E eu o moderno lá desci a rua não imaginando nada.

Talvez isso realmente se desse...
Verdadeiramente se desse...
Sim, carnalmente se desse...

Sim, talvez...


Álvaro de Campos

Etiquetas: , ,