" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca
incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se
sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca,
ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e
imunizados. A mínima exposição a determinadas
circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis
recorrências e acabamos por arder na altíssima febre
de uma recidiva sem regresso nem apelo".
Rui Knopfli
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Lembranças do futuro
Traz-me lembranças tristes o porvir, mais do que as débeis luzes a jusante acesas por consentidas saudades.
O pranto do homem é o menino perdido, mas a criança que chora na margem não se chora. Chora o homem:
Acordes gastos De velhos cantos Doutras deidades, Riem, nefastos Das novidades. Zombam?... Quem sabe Qual o sentido, Oculto ou expresso, Que tem a Esfinge? Ai quantas vezes O riso rido É dor que finge Ter-se sorrido; Ou azedume De ser excedido. Talvez apenas Serenidade; Olhos que fitem, Desnecessários, A eternidade. Nós é que, toscos De ter sentido Sua atentatória Supremacia, Nos esquecemos Que os Deuses mortos Não têm memória Nem simpatia.
Reinaldo Ferreira, “Poemas”, Livro IV – Dispersos, Lourenço Marques, Imprensa Nacional de Moçambique, 1960
" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca
incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se
sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca,
ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e
imunizados. A mínima exposição a determinadas
circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis
recorrências e acabamos por arder na altíssima febre
de uma recidiva sem regresso nem apelo".
Rui Knopfli