Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Jacques Brel, 30 anos


"Les bourgeois"



"Amsterdam"



"Au Suivant"

Neste mês (4 de Outubro) passam 30 anos da morte de Jacques Brel, compositor e intérprete que sempre povoou o meu imaginário, um post sobre a Gréco despoletou esta pequena homenagem.

Etiquetas: ,

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O essencial é ter o vento



O essencial é ter o vento.

Compra-o; compra-o depressa,

A qualquer preço.

Dá por ele um princípio, uma ideia,

Uma dúzia ou mesmo dúzia e meia

Dos teus melhores amigos, mas compra-o.

Outros, menos sagazes

E mais convencionais,

Te dirão que o preciso, o urgente,

É ser o jogador mais influente

Dum trust de petróleo ou de carvão.

Eu não:

O essencial é ter o vento.

E agora que o Outono se insinua

No cadáver das folhas

Que atapeta a rua

E o grande vento afina a voz

Para requiem do Verão,

A baixa é certa.

Compra-o; mas compra-o todo,

De modo

Que não fique sopro ou brisa

Nas mãos de um concorrente

Incompetente.



Reinaldo Ferreira, in "Poemas", Livro I - Um voo cego a nada, Lourenço Marques, Imprensa Nacional de Moçambique, 1960

Etiquetas: , ,

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Programa


Arq. "Pancho" Miranda Guedes, LM


Não faço o que quero

faço o que posso.

E o que posso passa

pelo passo da dificuldade.


Palavras tenho poucas,

duras, despidas estacas,

complicando a minha escolha.


Ermas e perfiladas

ergo-as ao sol na vertical

e são monótonas e dão sombra.


Com elas levanto quatro nuas

paredes, um tecto em forma

de prece. Dificilmente

construo uma casa fácil


Fácil é fazer difícil,

difícil fazer o fácil.


Rui Knopfli



Boomp3.com
Ben Harper

Etiquetas: , , ,

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Stairway To Heaven



Led Zeppelin

Não sei, de propósito ou não, sou "obrigado" a "mangussar"...

Etiquetas: ,

domingo, 26 de outubro de 2008

The coming of age



Há, em certa altura, inesperado,

um instante de reflexão. Paramos.

Correm as coisas e nós já não.

Surpreendemo-nos em um canto

a cismar e a discorrer com gente

estranha e démodée. Ora um inglês

isabelino e de gibão encardido,

logo o vulto ascético do italiano

renascentista, ou o grey tweed

conspícuo do velho clerk bancário.

Não raro um grego de Alexandria,

contemporâneo e corrupto,

ou outros muito mais recuados

que toda a história próxima.

Gente de sombra, persistente todavia;

mortos mais vivos do que os vivos.

As coisas correm e são novas. Têm

um brilho fluído que desorienta.

E nós, cinzentos e ermos. Como a pedra

sobre que a acção do tempo mais não

logra do que a concisão de perfis.


Rui Knopfli



Boomp3.com

Etiquetas: , ,

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Lembrete



Se procurar bem, você acaba encontrando
não a explicação (duvidosa) da vida,
mas a poesia (inexplicável) da vida.


Carlos Drummond de Andrade

" Amor, com Amor se paga"..., lá diz o ditado!



Etiquetas: , ,

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Eu cantei já, e agora vou chorando




Eu cantei já, e agora vou chorando
O tempo que cantei tão confiado;
Parece que no canto já passado
Se estavam minhas lágrimas criando.


Cantei: mas se me alguém pergunta "quando":
Não sei, que também fui nisso enganado.
É tão triste este meu presente estado
Que o passado por ledo estou julgando.


Fizeram-me cantar, manhosamente,
Contentamentos não, mas confianças;
Cantava, mas já era ao som dos ferros.


De quem me queixarei, se tudo mente?
Mas eu que culpa ponho às esperanças
Onde a Fortuna injusta é mais que os erros?


Luís Vaz de Camões


Boomp3.com

Etiquetas: ,

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

À sombra de um embondeiro...




Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.


Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.


Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.



Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.


Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.


João Cabral de Melo Neto, in "João Cabral de Melo Neto - Obra completa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1994


Etiquetas: , ,

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Cada coisa a seu tempo



Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.

Não florescem no inverno os arvoredos,

Nem pela primavera

Têm branco frio os campos.



À noite, que entra, não pertence, Lídia,

O mesmo ardor que o dia nos pedia.

Com mais sossego amemos

A nossa incerta vida.



À lareira, cansados não da obra

Mas porque a hora é a hora dos cansaços,

Não puxemos a voz

Acima de um segredo,



E casuais, interrompidas, sejam

Nossas palavras de reminiscência

(Não para mais nos serve

A negra ida do Sol) —



Pouco a pouco o passado recordemos

E as histórias contadas no passado

Agora duas vezes

Histórias, que nos falem



Das flores que na nossa infância ida

Com outra consciência nós colhíamos

E sob uma outra espécie

De olhar lançado ao mundo.



E assim, Lídia, à lareira, como estando,

Deuses lares, ali na eternidade,

Como quem compõe roupas

O outrora compúnhamos



Nesse desassossego que o descanso

Nos traz às vidas quando só pensamos

Naquilo que já fomos,

E há só noite lá fora.




Fernando Pessoa

(Ricardo Reis)

Etiquetas: , ,

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Lembranças do futuro




Traz-me lembranças tristes o porvir,

mais do que as débeis luzes a jusante

acesas por consentidas saudades.



O pranto do homem é o menino perdido,

mas a criança que chora na margem

não se chora. Chora o homem:



só os poetas têm lembranças do futuro.




Rui Knopfli


Etiquetas: , ,

sábado, 4 de outubro de 2008

Putain ça penche




Nike

Gap

Diesel

Chanel

Cacharel

Vancleef & Arpels

Hermès

Converse

Yamamoto

Petit Bateau

Dim

Prada

Armani

Helena Rubinstein

Calvin Klein

Gucci

Fendi

Ferrari

Boucheron

Chevignon

Louis Vuitton

Comme des Garçons

Levi’s

Paul Smith

Princesse Tam Tam

Saint Laurent

Jean-Paul Gaultier

Laperla

Agnès B

Christian Lacroix

Chloé

Cartier

Carita

Balenciaga

Dolce & Gabbana

Weston

Porsche

Sinequanone



Let’s Dance



Kookaï

Dior

501

L’Oréal

Puma

Naf Naf

Lagerfeld

Ralph Lauren

Kickers

Lancel

Timberland

Clarks



Let’s Dance



Putain ça penche

On voit le vide à travers les planches

Putain ça penche

On voit le vide à travers les planches



Chipie

Nina Ricci

Puma

Lolita Lempicka

Paule Ka

Ucla

Chantal Thomas

Hermès

Kenzo

Yamamoto

Cardin

Guerlain

Balmain

Paco Rabanne

Rebook



Putain ça penche

On voit le vide à travers les planches

Putain ça penche

On voit le vide à travers les planches



Lacoste

Hugo Boss

Castelbajac

Levi’s

Estée Lauder

Céline

Ray Ban

Jean-Louis David

Piaget

Lancôme

Courrèges

Zadig & Voltaire

Zaza de Marseille !



Putain ça penche

On voit le vide à travers les planches

Putain ça penche

On voit le vide à travers les planches



Céline

Ray Ban

Jean-Louis David

Lancôme

Courrèges

Adidas

Zara

H&M

Mary

Gant

Barbara Bui

ABC

Mercedès

Colette

Issey Miyake

Azzedine Alaïa

Zaza de Marseille

Le Temps des Cerises !



Putain ça penche

On voit le vide à travers les planches

Putain ça penche

On voit le vide à travers les planches



Alain Souchon


Etiquetas: ,

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

As palavras




Se escrevo não é para procurar a minha voz

a minha voz está em toda a parte embora não a ouça

É sempre precisa uma palavra como quem acende uma [lâmpada]

mesmo que seja apenas para iluminar uma página branca


Talvez só o leitor descubra a terra das palavras

e a voz que não é a minha como a voz do outro

Só ele talvez sinta a ferida que em mim não dói

porque escrever é sempre ir além do que se sente ou não


Não escrevo para ascender ou mergulhar no fundo

mas para evitar uma queda ou atolar-me num charco

Se o mundo é composto de apelos sufocados e vertiginosas [linhas]

quando o escutamos nada mais ouvimos do que o rumor da [ausência]

e não sabemos se ela é a dimensão do silêncio

ou a lentidão alheia do deserto


António Ramos Rosa

Etiquetas: ,