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Olhar perdendo,
Pensamento vagueando,
Corpo esquecendo,
Tempo passando.
Gosto de olhar para o mar.
MD
Etiquetas: MD, Moçambique, Poesia
" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli
Olhar perdendo,
Pensamento vagueando,
Corpo esquecendo,
Tempo passando.
Gosto de olhar para o mar.
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Rui Knopfli
Etiquetas: Moçambique, Poesia, Rui Knopfli
Tornaste-te Independente.
Mas mesmo assim não esqueci
O sal que resta nas minhas mãos
Como nas praias fica o perfume
Quando a maré desce e se retrai.
De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: em mim não tem abrigo.
De ti não calo: mundo antigo,
pois nasces e morres em cada madrugada.
Não teimem, não insistam, não repitam.
Deixem-me viver como quem, teimando, insiste,
E, porque insiste,
Repete o tempo, no silêncio dos tempos,
Para que outros não ouçam.
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Ilha de Moçambique
Não é a pedra.
O que me fascina
é o que a pedra diz.
A voz cristalizada,
o segredo da rocha rumo ao pó.
E escutar a multidão
de empedernidos seres
que a meu pé se vão afeiçoando.
A pedra grávida
a pedra solteira,
a que canta, na solidão,
o destino de ser ilha.
O poeta quer escrever
a voz na pedra.
Mas a vida de suas mãos migra
e levanta voo na palavra.
Uns dizem: na pedra nasceu uma figueira.
Eu digo: na figueira nasceu uma pedra.
Mia Couto
Ilha do meu alento, de Moçambique
Sei de cor,
Cada curva do teu corpo,
Os passos dos teus caminhos,
As sombras das tuas árvores e casario.
Sei de cor,
Cada dança das tuas ondas,
As carícias do teu vento,
Os cheiros da tua maresia.
Sei de cor,
Cada tom da cor do teu mar,
O calor e brilho do sol dos teus dias,
O luar e as estrelas das tuas noites.
Sei de cor,
Cada limite do teu horizonte,
A voz das tuas gentes,
A brandura das tuas horas.
Sei de cor,
A imagem do meu tempo.
Neste meu exílio sereno,
Onde tomei tamanho de gente.
Sei de cor,
Cada lágrima do teu rosto,
As angústias do teu olhar,
Os silêncios do tua voz,
A imagem de outro tempo!
E o que não sei de cor
Adivinho a sonhar.
Se me disserem que sou louca,
Logo minha voz com firmeza desmente.
Mas se for, tanto melhor!
MD
Etiquetas: Loreena McKennitt, MD, Mia Couto, Moçambique, Música, Poesia, Rui Knopfli