" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca
incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se
sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca,
ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e
imunizados. A mínima exposição a determinadas
circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis
recorrências e acabamos por arder na altíssima febre
de uma recidiva sem regresso nem apelo".
Rui Knopfli
Post dedicado à MD e ao Chuínga por serem persistentes na amizade que faz com que esta ave voe (voa, mas voa baixinho, como uma que existe lá para as bandas da 2ª circular, em Lisboa).
Uma casa que fosse um areal deserto; que nem casa fosse; só um lugar onde o lume foi aceso, e à sua roda se sentou a alegria; e aqueceu as mãos; e partiu porque tinha um destino; coisa simples e pouca, mas destino: crescer como árvore, resistir ao vento, ao rigor da invernia, e certa manhã sentir os passos de abril ou, quem sabe?, a floração dos ramos, que pareciam secos, e de novo estremecem com o repentino canto da cotovia.
A 8 de Novembro de 1969 realizou-se, no Clube do Niassa, o Baile de Finalistas 69/70 do Liceu Almirante Gago Coutinho de Nampula.
As aulas começaram como era hábito em Setembro, mas no final do 6º ano já estavam alinhavadas as primeiras ideias,"aulas" começadas, mãos à obra, corrida ao comércio local para os inevitáveis apoios, torneios desportivos, gincanas automóvel, tardes dançantes e imagine-se, fechar parte da cidade para a realização de um circuito de motos 50cc, com corredores e respectivas motas a viajarem desde Lourenço Marques.
Raparigas e rapazes entre os 16 e os 19 anos, chave do Liceu na mão, em completa liberdade de movimentos e sobretudo de ideias, a gerir tempo, dinheiro, burocracia e os nossos próprios conflitos.
Objectivos: um baile "comme il faut", e a nossa "viagem de estudo" (Moulin Rouge e Primavera, na Beira e claro… a Gorongosa)
Brilhante, o Manuel José Sargento ("Director Financeiro"), que fez render os mais de 400.000$00 (à época), até às provas orais em Junho de 1970.
Ninguém o tinha feito até aí, os sorrisos eram muitos, mas conseguimos!
Ficámos a dever isso ao "nosso" Reitor, Dr. José Miguel Morgado, à "nossa" professora de Filosofia, Dr.ª Fernanda Teixeira e sobretudo a nós próprios.
A decoração do Clube do Niassa por nossa conta, os ensaios para a valsa, as trocas de olhares, os primeiros namoricos, o Hélder Sabino sempre em cima de acontecimento que envolvesse o sexo oposto, o Marques Pinto feito mestre de "haute couture", o Luís Martins sempre na lua, o Fernando Jorge "ideologicamente" desconfiado da coisa, o Daniel sempre de pedra e cal com os seus amigos, a Marilina, Minita, Paula, Nelinha Alves, Diana, Isabel Sobral, Manuela Neves, Marília, Lourdes, Teresa, Lena, Luísa, a darem o melhor.
Ah! O Luís Magalhães a querer dirigir a banda, o que nunca conseguiu.
Tínhamos adoptado, porque mais novo, e nos acompanhava para todo o lado (até nas ceias de creme de marisco , sorvete e scotch), isto de trabalhar muito, dá fome e sede..., um "finalista honorário", chama-se Carlos Manuel Queiroz, e toda a gente o conhece!
A festa foi de arromba e nunca vista na cidade, elas, lindas nos seus vestidos compridos, com os seus penteados e provavelmente, a primeira maquilhagem. Irreconhecíveis, não eram as mesmas de todos os dias!
Nós, esticadinhos no primeiro e talvez último "smoking", a fazer as honras da casa, também não destoávamos.
Foram democraticamente eleitos, o “Rei” ea “Rainha” dos finalistas, ela, a Paula Mendonça, ele, o Jamu Sulemane!
Fizemos vir de Lourenço Marques, através do Arriaga da "Onda Pop" o melhor conjunto do momento, "Os Inflexos", de Nampula, actuaram os "Animais" do Jorge Cortez.
Duas bandas de gabarito para actuar em non-stop no baile e tarde dançante do dia seguinte.
Os "Inflexos" trouxeram da capital, luzes, estroboscópios, órgão Hammond, toda uma parafernália nunca vista. E duas músicas que tocaram vezes sem conta nessa noite e tarde seguinte.
A que mais sentimos, está aí, chama-se "Man Of The World", e é um original dos Fleetwood Mac
Filalistas do LAGC 69/70 no Clube do Niassa em Nampula É ver ..... Meninas e Meninos bonitos, Trocar os vestidos e calções de chita, Por vestes encantadas de baile, Enfeitadas com as cores dos sonhos. Os seus olhinhos sorrindo Porque os versos do coração São de poesia inocente.
Foi num grande salão. Para Todos, O mesmo salão, A mesma musica, Cada um dançando Na mesma direcção E Numa direcção diferente.
MD O Baile Devagar, devagarinho, Subo as escadas do palco. Com jeitinho, Afasto docemente as cortinas. Os meus olhos buscam cenas de tempos vividos. Os anos passaram ….. As lembranças são eternas. Os anos passaram…… Saudades! Sim…. Talvez…. e porque não? Se os meus sonhos foram tão altos Que ficaram escritos com letras de ouro! Esquecer? Porquê?..... Se a vida é um grande baile…. Onde as almas se encontram, se esbarram, Se unem, se separam Cada qual bailando nos conflitos, Nas esperanças….. Nas suavidades de todos os anos que se foram! Hoje, além de sorrir, Apetece-me rodopiar convosco Até ao luar de uma outra noite, Que mais uma vez se guardará, Como coisa, que em lembrança se recorrerá Um dia mais tarde……. Quando os anos voltarem a passar. Na partilha e no sonho Não há porta nem freio, Não há início nem fim, Escrito em letras de ouro, só meio. Apetece-me dizer obrigado. Apetece-me agradecer a Todos Amigos e Colegas Por um imperativo simplesmente gostável.
Um crime, um massacre cometido contra um Rei constitucional e sua família, travestido com roupagens pretensamente revolucionárias, executado pela mesma merda de gente (monárquicos e republicanos), cujos herdeiros, de sangue e políticos, ainda hoje nos governa
" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca
incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se
sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca,
ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e
imunizados. A mínima exposição a determinadas
circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis
recorrências e acabamos por arder na altíssima febre
de uma recidiva sem regresso nem apelo".
Rui Knopfli