Encontro
Que vens contar-me
se não sei ouvir senão o silêncio
Estou parado no mundo.
Só sei escutar de longe
antigamente ou lá prò futuro
É bem certo que existo:
chegou-me a vez de escutar.
Que queres que te diga
se não sei nada e desaprendo?
A minha paz é ignorar.
Aprendo a não saber:
que a ciência aprenda comigo
já que não soube ensinar.
O meu alimento é o silêncio do mundo
que fica no alto das montanhas
e não desce à cidade
e sobe às nuvens que andam à procura de forma
antes de desaparecer.
Para que queres que te apareça
se me agrada não ter horas a toda a hora?
A preguiça do céu entrou comigo
e prescindo da realidade como ela prescinde de mim.
Para que me lastimas
se é este o meu auge?!
Eu tive a dita de me terem roubado tudo
menos a minha torre de marfim
Jamais os invasores levaram consigo as nossas torres de marfim
Levaram-me o orgulho todo
deixaram-me a memória envenenada
e intacta a torre de marfim
Só não sei que faça da porta da torre
que dá para donde vim.
Almada Negreiros
Boomp3.com
Etiquetas: José de Almada Negreiros, Poesia
1 Comments:
nu silêncio da escrita
Não tento dizer tudo, mas tudo que escrevo espero que diga tudo!
Sem contradição possível, a emoção visível, a palavra sensível, o som da voz no silêncio da palavra escrita: a minha poesia, mesmo quando converso sem versos.
Francisco Coimbra
Publicado no Recanto das Letras em 05/10/2006
beijo
MD
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