Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Independência



Recuso-me a aceitar o que me derem.
Recuso-me às verdades acabadas;
recuso-me, também, às que tiverem
pousadas no sem-fim as sete espadas.

Recuso-me às espadas que não ferem
e às que ferem por não serem dadas.
Recuso-me aos eus-próprios que vierem
e às almas que já foram conquistadas.

Recuso-me a estar lúcido ou comprado
e a estar sozinho ou estar acompanhado.
Recuso-me a morrer. Recuso a vida.

Recuso-me à inocência e ao pecado
como ser livre ou ser predestinado.
Recuso tudo. Ó Terra dividida!

Jorge de Sena, “Poesia-I”, Livraria Moraes Editora, Lisboa, 1961

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Conheço muito bem esta imagem "Ó Terra dividida"

Tornaste-te Independente.
Mas mesmo assim não esqueci
O sal que resta nas minhas mãos
Como nas praias fica o perfume
Quando a maré desce e se retrai.

De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: em mim não tem abrigo.
De ti não calo: mundo antigo,
pois nasces e morres em cada madrugada.

Não teimem, não insistam, não repitam.
Deixem-me viver como quem, teimando, insiste,
E, porque insiste,
Repete o tempo, no silêncio dos tempos,
Para que outros não ouçam.

Um beijo
MD

domingo, 21 de outubro de 2007 às 22:30:00 WEST  

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