Independência
Recuso-me às verdades acabadas;
recuso-me, também, às que tiverem
pousadas no sem-fim as sete espadas.
Recuso-me às espadas que não ferem
e às que ferem por não serem dadas.
Recuso-me aos eus-próprios que vierem
e às almas que já foram conquistadas.
Recuso-me a estar lúcido ou comprado
e a estar sozinho ou estar acompanhado.
Recuso-me a morrer. Recuso a vida.
Recuso-me à inocência e ao pecado
como ser livre ou ser predestinado.
Recuso tudo. Ó Terra dividida!
Jorge de Sena, “Poesia-I”, Livraria Moraes Editora, Lisboa, 1961
1 Comments:
Conheço muito bem esta imagem "Ó Terra dividida"
Tornaste-te Independente.
Mas mesmo assim não esqueci
O sal que resta nas minhas mãos
Como nas praias fica o perfume
Quando a maré desce e se retrai.
De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: em mim não tem abrigo.
De ti não calo: mundo antigo,
pois nasces e morres em cada madrugada.
Não teimem, não insistam, não repitam.
Deixem-me viver como quem, teimando, insiste,
E, porque insiste,
Repete o tempo, no silêncio dos tempos,
Para que outros não ouçam.
Um beijo
MD
Enviar um comentário
<< Home