Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Na vida somos iguais




Na vida somos iguais

Às peças que no xadrez

Valem o menos e o mais,

Segundo o acaso que a fez.


Do mesmo cepo nascer

Para as batalhas pensadas,

Aos mais, peões de perder,

A raros, ficções coroadas.


Mas, findo o jogo, receio

Que, extintas as convenções,

Durma a rainha no meio

Dos mal nascidos peões.


Reinaldo Ferreira, “Poemas”, Livro I – Um voo cego a nada