Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Impressão digital



Os meus olhos são uns olhos.

E é com esses olhos uns

Que eu vejo no mundo escolhos

Onde outros com outros olhos,

Não vêem escolhos nenhuns


Quem diz escolhos diz flores.

De tudo o mesmo se diz.

Onde uns vêem luto e dores

Uns outros descobrem cores

Do mais formoso matiz.


Nas ruas ou nas estradas

Onde passa tanta gente,

Uns vêem pedras pisadas,

Mas outros, gnomos e fadas

Num halo resplandecente.


Inútil seguir vizinhos,

Querer ser depois ou ser antes,

Cada um é seus caminhos.

Onde Sancho vê moinhos

D. Quixote vê gigantes.


Vê moinhos? São moinhos.

Vê gigantes? São gigantes.


António Gedeão