Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Cavalo de várias cores



Quero um cavalo de várias cores,

Quero-o depressa que vou partir.

Esperam-me prados com tantas flores,

Que só cavalos de várias cores

Podem servir.



Quero uma sela feita de restos

Dalguma nuvem que ande no céu.

Quero-a evasiva - nimbos e cerros -

Sobre os valados, sobre os aterros,

Que o mundo é meu.



Quero que as rédeas façam prodígios:

Voa, cavalo, galopa mais,

Trepa às camadas do céu sem fundo,

Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,

Para onde tendem as catedrais.



Deixem que eu parta, agora, já,

Antes que murchem todas as flores.

Tenho a loucura, sei o caminho,

Mas como posso partir sózinho

Sem um cavalo de várias cores ?



Reinaldo Ferreira, "Poemas" Livro I-Um voo cego a nada

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

http://chuinga4.blogs.sapo.pt/51506.html

Abraço, IO.

terça-feira, 29 de agosto de 2006 às 15:09:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Tal distinção...
Obrigado,
Beijo,
F

quinta-feira, 31 de agosto de 2006 às 14:26:00 WEST  

Enviar um comentário

<< Home