Na morte de Reinaldo Ferreira (50 anos)
Recusando a simetria académica
dum frio céu azul,
desce por si à desarmonia incandescente
dos infernos,
mergulhando até às ilhargas
no lodo carnal das paixões
que arrastou em vida.
Desce puro,
desce sereno,
na electricidade estática do olhar,
no amarelo dos cabelos em desalinho,
- uma enorme flor lilás
abrindo-lhe o fundo, magro peito.
Desce,
o menestrel de tontas melodias,
aos panoramas de uma infância
adulta.
O que na vida repartiu seu poema
por alados guardanapos de papel,
o criador de sonhos logo perdidos
na berma dos caminhos,
o mago que pressentia o segredo
da beleza perene,
recusa
a estática arquitectura dos parténones celestes
e desce,
simples,
sangrando,
sereno,
à angústia vulcânica dos infernos torturados,
onde
se mira como num espelho.
Rui Knopfli
Reinaldo Ferreira, foto de Rui Knopfli
Reinaldo Ferreira
Antes de mim, já outros o fizeram.
Dominadores de mundos circunscritos,
só se submetem aos que consideram
ser do domínio fulvo dos seus mitos.
Se vivem, é para o desnudamento
da íntima direcção que em si arrua
os gelos vindos de um cabo do alento
duma promessa a uma verdade sua.
Antes de mim, já outros o fizeram.
Com o cinzeiro cheio, amanheceram
ante a escarpa do olhar dentro de si.
Na mesa do café, tardando à mesa,
à curva do seu fardo de beleza,
como à do meu destino, obedeci
Sebastião Alba
Timbre
EU,
Morreu.
Só há ideal
No plural.
Tecidos
Como os fios que há nos linhos,
Parecidos
Entre nós como dois olhos,
Somos do tempo de viver aos molhos
Para morrer sózinhos.
Reinaldo Ferreira, poema autográfico, in "Poemas", Lourenço Marques, Imprensa Nacional de Moçambique, 1960.
Etiquetas: Moçambique, Poesia, Reinaldo Ferreira, Rui Knopfli, Sebastião Alba
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home