Ao Carlos (Drummond de Andrade)
Não há guarda-chuva
contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.
Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.
João Cabral de Melo Neto, "João Cabral de Melo Neto - Obra completa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1994
Etiquetas: Brasil, João Cabral de Melo Neto, Poesia
2 Comments:
... e felizmente não há guarda-chuvas que nos privem da poesia e da amizade, bem-quitos pingos que nos molham quando sentimos a vida secando, o gordinho mirrando.
"Kiribati, Quirimbas, Sempre!"
:)
c
"quistos", porra!
:))
- há cá bué de botelhas à espera, "meu"! ;)
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