Um Voo Cego A Nada...

" Ter-se nascido ou vivido em Moçambique é uma doenca incurável, uma virose latente. Mesmo para os que se sentem genuínamente portugueses mascara-se a doenca, ignora-se, ou recalca-se e acreditamo-nos curados e imunizados. A mínima exposição a determinadas circunstâncias desencadeia, porém, inevitáveis recorrências e acabamos por arder na altíssima febre de uma recidiva sem regresso nem apelo". Rui Knopfli

segunda-feira, 29 de março de 2010

Space Oddity


David Bowie

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quarta-feira, 24 de março de 2010

Impostos



Primeiro eles vieram atrás daqueles com 1 Milhão e eu não disse nada.
Depois eles vieram atrás daqueles com 100000 e eu não disse nada.
Depois eles vieram atrás daqueles com 10000 e eu não disse nada.
Depois vieram vieram atrás daqules como eu com 1000 e não houve ninguém para falar por mim.

lucklucky

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terça-feira, 23 de março de 2010

A moringa


Foto Digital no Índico

Gorda, bojuda, de alongado pescoço
liso, macio veludo, recordo-a
cor de cobre emaciado, no extremo
mais recuado da vasta varanda colonial,
emblema da meninice emblemática.


Água puríssima, lavada no sábio
filtro poroso que preserva o sabor a barro,
matando a primeira de todas as sedes,
a que prenuncia, talvez, as outras
para que nunca haverá remédio.


Rui Knopfli

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domingo, 21 de março de 2010

You Can Leave Your Hat On


Joe Cocker

Baby, take off your coat...real slow
Baby, take off your shoes...here, I'll take your shoes
Baby, take off your dress
Yes, yes, yes
You can leave your hat on
You can leave your hat on
You can leave your hat on

Go on over there and turn on the light...no, all the lights
Now come back here and stand on this chair...that's right
Raise your arms up in to the air...shake 'em
You give me a reason to live
You give me a reason to live
You give me a reason to live

Suspicious minds are talking
Trying to tear us apart
They say that my love is wrong
They don't know what love is
They don't know what love is
They don't know what love is
They don't know what love is
I know what love is

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sexta-feira, 19 de março de 2010

Dilema



O dilema está em saber parar e partir.
Enquanto não se instala o cansaço e brilha ainda a surpresa no olhar.
Enquanto for possível partir sem doer demasiado.
Antecipar o gesto de renúncia antes de chegar o momento de viragem.

Antecipar – se ao tédio.
Dobrar a esquina sem vacilar.
Existe sempre um limite, para lá do qual tudo se transforma na rotina que mata devagar.
Ter coragem de fixar esse ponto e dizer: basta! Vou morrer sem ti, mas é
preciso salvar o amor.


Maria José Quintela


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quarta-feira, 17 de março de 2010

Mind Games


John Lennon


We're playing those mind games together
Pushing the barriers, planting seeds
Playing the mind guerrilla
Chanting the mantra, peace on earth
We all been playing those mind games forever
Some kinda druid dudes lifting the veil
Doing the mind guerrilla
Some call it magic, the search for the grail

Love is the answer and you know that for sure
Love is a flower, you got to let it, you got to let it grow

So keep on playing those mind games together
Faith in the future, outta the now
You just can't beat on those mind guerrillas
Absolute elsewhere in the stones of your mind
Yeah we're playing those mind games forever
Projecting our images in space and in time

Yes is the answer and you know that for sure
Yes is surrender, you got to let it, you got to let it go

So keep on playing those mind games together
Doing the ritual dance in the sun
Millions of mind guerrillas
Putting their soul power to the karmic wheel
Keep on playing those mind games forever
Raising the spirit of peace and love

Love...
(I want you to make love, not war, I know you've heard it before)

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domingo, 14 de março de 2010

What's Up


4 Non Blondes


Twenty-five years and my life is still
Trying to get up that great big hill of hope
For a destination
And i realized quickly when i knew i should
That the world was made up of this brotherhood of man
For whatever that means

And so i cry sometimes
When i'm lying in bed
Just to get it all out
What's in my head
And i am feeling a little peculiar
And so i wake in the morning
And i step outside
And i take a deep breath and i get real high
And i scream at the top of my lungs
What's going on ?
And i say. hey hey hey hey
I said hey. what's going on ?
And i say. hey hey hey hey
I said hey. what's going on ?
ooh. ooh ooh
ooh ooh ooh
And i try. oh my god do i try
I try all the time. in this institution
And i pray. oh my god do i pray
I pray every single day
For a revolution

And so i cry sometimes
When i'm lying in bed
Just to get it all out
What's in my head
And i am feeling a little peculiar


And so i wake in the morning
And i step outside
And i take a deep breath and i get real high
And i scream at the top of my lungs
What's going on ?
And i say. hey hey hey hey
I said hey. what's going on ?
And i say. hey hey hey hey
I said hey. what's going on ?
And i say. hey hey hey hey
I said hey. what's going on ?
And i say. hey hey hey hey
I said hey. what's going on ?
ooh ooh ooh
ooh ooh ooh

Twenty-five years and my life is still
Trying to get up that great big hill of hope
For a destination


Linda Perry

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segunda-feira, 8 de março de 2010

Cântico Negro


João Villaret

“Vem por aqui” – dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali …


A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos …


Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: “vem por aqui”?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí …


Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos …


Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios …
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “Vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou …
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
-Sei que não vou por aí!


José Régio

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sexta-feira, 5 de março de 2010

Love Hurts


Norah Jones & Keith Richards

À Maria

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quinta-feira, 4 de março de 2010

A descoberta da rosa



Dez anos de poesia, fora a gaveta
e descubro que, a não ser ocasionalmente
e em ar de troça, jamais me debrucei
deveras sobre o tema da rosa. De resto
eram para mim, creio, marginais as flores.
Vícios de formação e juventude,
uma tão intensa preocupação do humano
que olvidei a discreta angústia da rosa.
Outros, não o ignoro, nela tiveram seu princípio
para a deixarem depois esquecida entre as páginas
de um qualquer velho livro, tão cheios eles,
de ternura e simpatia fraternas, coisas
que já eludem este coração envilecido.
Salvo o devido respeito por tudo quanto é útil
e estimável na terra, faltam-me o tempo
e o ânimo para as empreitadas mais ingentes.
E o pouco que me sobra tenciono aplicá-lo
em tarefas humildes como o cultivo
destes versos, algum súbito amor inadíavel
e a lenta e minuciosa descoberta da rosa.


Rui Knopfli

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segunda-feira, 1 de março de 2010

Águas de Março


Tom Jobim & Elis Regina

É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira

É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira

É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho

É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração

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